É ainda muito cedo para se perceber todos os contornos do processo que levou Jorge Jesus a trocar a Luz por Alvalade. Mas uma coisa é certa: Depois disto, o Presidente do Benfica tem pela frente o seu maior desafio de sempre. O que acontecer daqui para a frente servirá para atestar até que ponto Luís Filipe Vieira conseguiu dotar o Benfica de uma estrutura capaz de ganhar, seja quem for o treinador.
O mais fácil para Vieira, nesta altura, era renovar com Jesus, satisfazendo as suas pretensões salariais. O mais difícil tinha sido feito há dois anos, quando o presidente do Benfica renovou contrato com o treinador que tinha perdido tudo nos descontos. Arriscou e foi bicampeão. Agora, perante a necessidade de equilibrar nos pratos da balança a necessidade de continuar a ganhar e a de mudar o paradigma financeiro do clube, Vieira voltou a escolher a opção de risco.
Parece claro que o líder benfiquista acreditou que só um desafio no estrangeiro levaria Jesus a deixar o Benfica. Com Lopetegui garantido no Dragão, nunca Vieira terá acreditado que o Sporting fosse capaz de juntar argumentos para convencer Jesus. E terá apostado nisso para levar o treinador a conformar-se com uma redução salarial. Ou isso, ou o estrangeiro. Mas a jogada correu-lhe mal. Porque o Sporting foi capaz de seduzir Jorge Jesus e este, livre de compromissos, estava desejoso de ser seduzido.
É perfeitamente legítimo que um treinador que acaba de se sagrar bicampeão aspire a ver o seu salário aumentado. No caso de Jorge Jesus isso é ainda mais natural, visto que nunca foi um treinador que se assumisse como adepto, antes sim como um profissional disposto a dar tudo por quem lhe pagava. Não se pode, pois, estranhar ou sequer criticar o facto de nem ter hesitado perante uma oferta astronómica do clube (esse sim) do coração.
Perante isto, a Vieira resta agora escolher o sucessor. Um treinador que terá necessariamente de ter a experiência e a capacidade suficientes para aguentar a pressão de substituir um homem que, sobretudo nos últimos dois anos, construiu um perfil de vencedor nato. Isto, ao mesmo tempo que tem ser capaz de respeitar e aceitar uma nova política de investimento desportivo menos disponível para gastar e mais apostada em aproveitar os frutos da formação. Mas sempre com a obrigação de ganhar. E mais ainda agora, quando, à necessidade de comprovar que o ciclo do FC Porto terminou, se junta a exigência de não deixar que se chegue à conclusão que o sucesso do Benfica foi apenas obra de Jesus.
É esta, pois, a quadratura do circulo que Luís Filipe Vieira terá de resolver. Continuar a ganhar com menos investimento. Quando o FC Porto joga todas as cartas para mostrar que são prematuras as notícias da sua morte. Quando Sporting joga um Ás de trunfo, aparentemente, empurrado pelos milhões angolanos e liderado por um presidente disposto a tudo. Não vai ser fácil. Mas uma coisa é certa. O próximo campeonato vai ser um dos mais escaldantes dos últimos anos. E tudo começa logo com um Benfica-Sporting, na final da Supertaça. Nunca mais é agosto!…