O envelhecimento populacional é um dos desafios mais urgentes do século XXI, com repercussões profundas no equilíbrio económico e social do País. Em Portugal, os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que, por cada 100 jovens, existem 188 idosos — um dos rácios de dependência mais elevados da União Europeia. Este fenómeno coloca uma pressão considerável sobre os sistemas de segurança social e de saúde, uma vez que existem menos trabalhadores ativos para sustentar uma população envelhecida em crescimento.
Um artigo recente do The Economist analisa como a geração com mais de 55 anos se está a tornar um desafio para a sociedade porque é frequentemente vista como um peso no mercado de trabalho, que não providencia as condições adequadas para as suas necessidades, o que dificulta a sua permanência ou reintegração no emprego. Contudo, como muitos destes profissionais carregam décadas de experiência, resiliência e conhecimento, também eles podem servir de motor para uma economia mais equilibrada e sustentável. Este cenário representa uma oportunidade única para as empresas que estão dispostas a olhar além dos estereótipos e a reconhecer o valor do talento sénior.
Os empregadores podem – e devem – beneficiar desta experiência e conhecimento, promovendo ambientes de trabalho inclusivos e multigeracionais e adaptando políticas para melhor integrar esta parcela da população. Ignorar o seu potencial é, simultaneamente, negligenciar uma fonte inestimável de talento que pode preencher lacunas de competências, garantir a transmissão de conhecimento entre gerações e fortalecer equipas através da diversidade e complementaridade.
A integração dos profissionais seniores exige, porém, uma mudança de mentalidade. É necessário que se criem condições justas para aproveitar este capital humano: horários flexíveis, programas de requalificação e políticas laborais inclusivas são algumas das medidas que podem fazer a diferença. Adotar medidas mais flexíveis, como trabalho parcial ou consultoria, pode incentivar estes profissionais a permanecerem ativos, sem o desgaste de uma carga horária tradicional. Mais do que uma vantagem competitiva, promover a inclusão dos trabalhadores mais experientes é também uma questão de visão estratégica. Ao priorizar a diversidade geracional, constroem-se bases para organizações mais robustas e resilientes, onde a criatividade e o dinamismo da juventude se aliam à sabedoria e experiência da geração acima dos 55 anos.
Num país onde a fuga de talento jovem tem sido uma preocupação crescente, a valorização do trabalho sénior pode ser uma estratégia para equilibrar esse talent pool e mitigar a escassez de mão-de-obra qualificada, principalmente em áreas onde existe a necessidade de maior formação, como engenharia e tecnologia. Apostar nesta faixa etária não é apenas uma resposta ao presente, mas um investimento essencial para assegurar a sustentabilidade económica e social no futuro.
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