Hesitei em escrever sobre este tema. Vivemos em democracia e cada pessoa pensa, escreve e faz o que quer, incluindo com o seu corpo. Contudo, sempre me disseram que a minha liberdade termina onde começa a do outro. Fiel a esta máxima, tenho de juntar a minha voz às que de alguma forma apontam o dedo a Miguel Sousa Tavares. Aponto o dedo, não ao que disse (MST sempre esteve à frente no tempo e recordo-me que, por exemplo, defendeu publicamente o casamento homossexual), mas à forma como disse e que para mim chega a ser ofensiva.
Cada pessoa deve poder fazer com o corpo o que bem entende, deve poder assumir-se tal como é. Cada pessoa tem o direito a ser feliz. Se nos concursos de beleza não se pensou ou atualizou regras de participação, porque não aproveitar o vazio e concorrer independentemente de o corpo ser “o resultado de sucessivas operações plásticas que correram bem e tratamentos moleculares ou celulares”, como disse de forma tão fria MST, ou ser tal qual a natureza o criou?
Nos concursos de beleza há uma exposição a um júri. A beleza é sufragada. Por isso, bastaria, em última análise, aos jurados não votarem naquela mulher. Não foi o caso. Os jurados decidiram que aquela mulher era a mais bela do grupo. Foi a beleza dela quem ganhou.
Se ao invés de um concurso de beleza estivéssemos a falar de desporto a minha posição mudaria. Não usaria palavras tão duras quanto Sousa Tavares, mas teria de juntar a minha voz às críticas porque, mais uma vez, a minha liberdade termina quando começa a do outro.
Mais uma vez: cada um tem o direito a fazer com o corpo o que entender, tem o direito de ser feliz na sua essência. No entanto, quando o tema é força física/resistência a evolução da própria humanidade preparou homens e mulheres de forma diferente. E o que está nos cromossomas não se pode alterar. Não é questão hormonal, nem tão pouco física. Por isso, em temas relacionados com desporto concordo em absoluto que se separem pessoas trans e intersexo, tal como o Comité Olímpico Internacional pediu às federações desportivas e que, por exemplo, já levou as pessoas trans a deixar de poder participar nas competições femininas de atletismo.
A humanidade andou muito para aqui chegar. Mas, uma vez aqui, ainda há muito para crescer e, sobretudo, compreender sobre a várias raças. Sim, escrevi raças. Aqui em casa existem algumas e sinto que tenho muito para aprender com todas.
Por isso não me deixo levar por esta Miguel Sousa Tavarice.
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