Inicio este artigo de opinião, tal como muitos operadores de mercado, sem certezas absolutas de onde soprará o vento, mas com a certeza que será desafiante e exigirá de todos nós maior rapidez nas decisões.
Começando pelas certezas que teremos este ano, é que as taxas de juro não voltarão a valores negativos, neste momento a Euribor a seis meses encontra-se a 2,876%, após cerca de 6 anos em terreno negativo (desde novembro de 2015 até junho de 2022).
A pressão da inflação sobre a economia irá manter-se, tendo atingido em 2022 um valor médio de 7,8%, o valor mais elevado desde 1992, notar que em 2021 o seu valor médio foi de 1,3%.
O clima de incerteza económica e financeira será elevado, pressionado pelo risco da continuação da guerra na Ucrânia e pela ideia do surgimento de recessão nas principais economias mundiais.
Deste modo o ano de 2023 carrega as costas, pelo menos por agora, todas estas variáveis que alteraram e alterarão alguns dos equilíbrios de mercado e que no caso do imobiliário poderá modificar algumas das suas tendências
A principal que se perspetiva é a alteração do motor de mercado e a passagem de um mercado essencialmente comprador onde os vendedores ditam as regras, para um mercado essencialmente vendedor onde os compradores passam a dominar mercado.
A tendência verificada nos últimos 5 anos caracterizada por um incremento generalizado no preço da habitação a uma taxa média de 10% ao ano poderá estar em alteração, devendo-se verificar ao longo de 2023 uma travagem no seu crescimento, podendo este efeito ser mais acentuado nos segmentos mais expostas a financiamento bancário.
Claro que no atual clima de mercado o setor imobiliário é considerado como uma âncora de estabilidade e uma proteção para os ativos financeiros principalmente nos segmentos mais altos de mercado e esse fator atenuará os efeitos nocivos da subida das taxas Euribor e o seu impacto negativo na procura, pelo que a manutenção dos preços de venda nas principais cidades do país será o mais previsível de acontecer.
Neste contexto uma real análise do valor de mercado no contexto do vendedor é crucial para a manutenção da boa performance do mercado, sendo que aqui os principais operadores, empresas de mediação, bancos e portais imobiliários, têm um papel de relevo na distinção e no esclarecimento entre o “asking price” e “real price” de modo a que os vendedores possam reavaliar as suas expectativas por vezes exageradas em relação ao real preço de venda.
No contexto político seria útil que em 2023 se cuidasse mais do chamado mercado internacional, para o potenciar e dinamizar de modo a proteger muitas famílias de uma perda no valor das suas habitações pela eventual diminuição da procura interna.
Crítico também em 2023 é implementar medidas de dinamização da construção de novas habitações, sendo por isso fundamental o alargamento da redução do IVA na reabilitação à construção de obra nova, a criação de incentivos à construção em zonas de menor pressão, limítrofes aos grandes centros urbanos e criação de incentivos e bonificações ao credito habitação jovem.
Por último desejar um bom ano com muita energia e concretizações.