Na última semana, o mundo inteiro teve os olhos postos no Afeganistão. Mais precisamente num local que fica a 16 quilómetros da capital, Cabul, e onde nos últimos dias cidadãos e políticos assistiam, em direto, a uma enorme crise política e humanitária: o Aeroporto Internacional de Cabul. Na segunda-feira, o Pentágono anunciou que os militares norte-americanos tinham deixado o Afeganistão ao fim de 20 anos.
Durante muitos dias, viveram-se ali, naquele aeroporto, horas, dias de contrarrelógio que davam conta de histórias dramáticas de refugiados. Sentiu-se o medo de milhares de pessoas, viu-se desespero e assistiu-se a um braço de ferro entre o governo dos EUA e os talibãs, com estes a garantirem graves consequências caso os norte-americanos não abandonassem o local até 31 de agosto, como combinado. Biden desistiu de manter os militares para lá dessa data e quando na segunda-feira o último avião abandonou o Afeganistão, admitiu que alguns cidadãos americanos tinham ficado para trás – pelo menos 100, segundo disse depois Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano.
Pelo meio desta luta de poder, sucederam-se muitas outras, assim como demonstrações de poder em pleno aeroporto. Na última quinta-feira, enquanto os EUA e os talibãs mediam forças, o grupo jihadista Estado Islâmico (o grande rival dos talibãs, que agora com a saída das forças internacionais quer ganhar poder no território) decidiu entrar na crise e lançou um atentado suicida. Morreram 170 pessoas, entre elas 13 militares norte-americanos, e 150 ficaram feridas. O caso assustou ainda mais os afegãos, que começaram em maior número a tentar sair do país, em desespero. E desde aí, a retirada de refugiados transformou-se num verdadeiro caos. O que veio até reforçar a “cooperação” entre talibãs e EUA para garantir a segurança do aeroporto. Por outro lado, Biden deixou um aviso ao Estado Islâmico: “Não perdoamos, não esqueceremos. Vamos perseguir-vos e fazer-vos pagar.”
Poucos dias depois, os EUA conseguiram evitar mais um atentado deste grupo, matando com um drone os terroristas que iram efetuar um outro ataque suicida.
Segundo dados do general Hank Taylor, desde 14 de agosto mais de 122 mil pessoas foram retiradas de Cabul – onde neste momento, e pela primeira vez em duas décadas, o poder voltou às mãos dos talibãs.