Querem um bom exemplo para perceber como as eleições para a presidência dos Estados Unidos da América são, de facto, realmente importantes para o mundo? Recuem até ao ano 2000, àquela época de “paz e abundância” em que alguns adivinhavam o “fim da História”. A época em que se consolidava, aparentemente, o triunfo dos sistemas democráticos ocidentais sobre os escombros da antiga União Soviética, em que se iniciava a grande revolução tecnológica e em que a União Europeia era o “clube” para o qual todos queriam entrar.
Nesse ano, numas eleições presidenciais com grande polémica na contagem dos votos – e que serão, certamente, muitas vezes recordadas nos dias a seguir ao próximo 3 de novembro –, Al Gore ganhou no voto popular (tal como Hillary Clinton em 2016), mas perdeu para George W. Bush no Colégio Eleitoral, depois de o Supremo Tribunal ter ordenado o fim da recontagem dos votos na Flórida.
Sabemos o que aconteceu aos EUA e ao mundo depois dessa eleição. Não sabemos, no entanto, o que poderia ter acontecido se Al Gore tivesse mesmo chegado à Casa Branca, após os oito anos passados como vice-presidente de Bill Clinton.
Não sabemos, com rigor, o que poderia ter acontecido, mas ninguém tem dúvidas de que muita coisa teria sucedido de modo diferente. Sabemos, por exemplo, que os EUA, então a única superpotência global, teriam enveredado por um caminho completamente diferente em matéria de ambiente e liderado o mundo no combate às alterações climáticas. Tudo o que Al Gore fez depois dessa derrota não deixa margem para grandes dúvidas sobre qual teria sido o seu caminho nessa matéria. E o mundo estaria, hoje, certamente melhor, sem tantos anos perdidos pelo caminho.
Sabemos também que os EUA, com Al Gore no comando, teriam continuado a apoiar o papel das Nações Unidas e promovido o multilateralismo nas grandes decisões internacionais, até como forma de cimentar o domínio americano, em vez de embarcar em aventuras como a invasão do Iraque, sem a concordância da ONU – como fez George W. Bush, ateando um incêndio que deixou toda a região num caos, que ainda hoje continua e que ninguém sabe quando terminará.
Em 2000, a diferença de uns poucos votos na Flórida mudou o poder nos EUA e teve um impacto tremendo em todo o mundo. Em 2020, grande parte da sorte do planeta está também dependente do que os americanos decidirem. Com consequências marcantes para o futuro.