Domingo é o dia dos moçambicanos irem à praia. O único dia.
A caminho de Paquitequete, o único bairro com moçambicanos autóctones no tempo em que a cidade de Pemba se chamava Porto Amélia, passámos de carro pela praia de Hinos e deparámo-nos com uma incrível enchente de pessoas. Era quase impossível ver a areia. Como não tínhamos comunidades para visitar, fizemos o mesmo. No entanto o nosso cicerone levou-nos a uma praia menos populosa, Murrébuè, 12 quilómetros a sul de Pemba.
O ponto de entrada para a praia foi o restaurante Il Pirata, que está na mão de Susanna, uma simpática italiana de Milão. Qualquer automóvel de cidade desapareceria numa das crateras do caminho de terra batida. Sem um 4X4 seria impossível lá chegar.
Numa baixa-mar que parecia estender-se até Madagáscar, com poças de água azul turquesa e areia em tons de paisagem lunar, era quase impossível ver pessoas.
No entanto, após andar alguns minutos encontrámos várias crianças a apanharem marisco e malhação para comer. Malhação é um peixe pequeno, fácil de apanhar quando fica preso nas poças de marés. Este nome é apenas o primeiro da aula de biologia marinha de hoje. Um dos miúdos entretinha-se a partir búzios para tirar os animais do interior. Segundo um informador local, tratava-se de txotxopué. O Google não confirma nem desmente. Na areia encontrámos cascas de formato triangular com aspeto de escamas gigantes e, aparentemente, é um molusco tipo mexilhão que faz um ótimo arroz e pode chamar-se makassa ou mbare.
De regresso à estrada esburacada apercebemo-nos de um esquema mais de engenhosos do que de engenheiros. Cada vez que um carro se aproximava, uma criança de pá em riste começava a mandar pazadas de terra vermelha para os buracos, enquanto três ou quatro amigos juntavam as mãos em conchinha para pedirem um donativo por tão importante serviço rodoviário.
Passámos por uns cinco grupos destes rapazes, sempre estrategicamente à sombra, e Carlos, ao volante, contou-nos o problema de recompensar o brilhantismo deste esquema com dinheiro. “Estes miúdos estão aqui a um domingo e ficam todos contentes se ganharem uns meticais, mas quando isso acontece começam a pensar, ‘ora bem, eu na escola nunca recebo meticais, mas na estrada até posso ganhar, portanto vou deixar de ir à escola e venho para aqui todos os dias’ – o que é tramado.”