
Digamos que Mokbar é um agilizador de processos. Sempre questionei a sua eficácia, mas, pelo menos, conhece os cantos à casa. E cantos recantos (leia-se: escritórios e departamentos) é coisa que não falta em Peka 55, a fronteira.
Pode não ser eficaz, mas uma coisa é certa: brilha entre os seus pares. Cumprimenta toda a gente, saúda, faz vénias, entra pelos escritórios adentro e a única coisa que lhe percebo dizer é AMIGOS TURISTAS PORTUGUESES sempre com aquele sorriso pequeno de quem parece ter os cantos da boca cozidos, na sua cara de fuinha. Veste à ocidental, calças jeans, boné americano e desta vez ostenta um blusão que nas costas diz “Wild Spirit London – Toronto”. A ver pela canícula que se faz sentir (mais de 40º) deve ter recebido o blusão há pouco tempo.
Todos os anos me telefona, em dezembro, para me desejar Bom natal e além disso, não exige nada. Uns anos tem três filhos, outros, tem cinco, provavelmente, dependendo do grau de necessidade. É simpático, prestável e caminha com aquele ar preocupado de chefe de repartição, encurvado, ora olhando para a esquerda, ora olhando para a direita. Cumprimenta-me com um aperto de mão, mas à Glória leva a mão direita ao peito e faz uma ligeira vénia. Não sei se é eficaz, mas tenho confiança nele e, portanto, é a nossa fuinha da fronteira.
Depois de agilizado o processo, dou-lhe um abraço, agradeço-lhe e, como costume, pede-me para recomendar os seus serviços aos meus amigos. Fica prometido.
Conheci Mokbar talvez há vinte anos numa célebre passagem por esta fronteira ao fim da tarde, já escuro. Pediu-me boleia para Nouadibou e eu pedi-lhe para me recomendar um hotel. Levou-me a um hotel “muito bom” que era uma verdadeira espelunca. Desde então ficamos amigos, e cada vez que passo por Peka 55, telefono-lhe.
Já tinha ligado a ignição quando Mokbar chegou-se à janela e perguntou: “A 22 de dezembro já estás em Portugal? Depois eu ligo-te.” Inshallah.