Acorda continua a esticar… com novo fiasco negocial no Eurogrupo, com a Grécia a ver chegar ao fim o seu programa de resgate, que acaba já a 28 de fevereiro, e com o deadline imposto a Tsipras para que decida, até esta sexta–feira, se quer um prolongamento do atual programa de ajuda. Uma proposta dos ministros das Finanças do euro que, obviamente, o Governo da Grécia não poderá aceitar, olhando às condições que lhe são impostas e às promessas que fez ao seu povo. Como consequência deste novo impasse, as negociações têm de continuar, para que se ganhe tempo… para voltar a negociar.
Não se percebe para onde quer ir o Eurogrupo. Circula, de forma cada vez mais clara, que vários parceiros europeus não se importariam de ver a Grécia abandonar a moeda única. E, pelo que se vê, parece não faltar quem esteja disposto a correr o risco de uma cisão no clube do euro. Mas será isto o que a União Europeia é e quer? É isto o que verdadeiramente nós queremos?
A proposta de extensão do atual programa, por seis meses, foi referida pelo ministro das Finanças francês logo antes da reunião do Eurogrupo. Na altura, uma extensão que devia ser acompanhada de condições que acomodariam os objetivos e os compromissos assumidos pelo Governo grego ao seu eleitorado. Ao fim da tarde, a reunião acabava com as condições referidas por Michel Sapin a cederem à linha dura do Governo alemão. O “respeito pelo sentido do voto grego” deu lugar a um prolongamento do programa de ajuda da troika nos exatos termos em que está desenhado, com o cumprimento integral do que está acordado e com a Grécia a ter de deixar de falar em renegociação dos compromissos hoje existentes. Ou seja, um acordo que Atenas nunca poderá aceitar, que é revelador da falta de pontes entre a Grécia e os restantes membros do euro e que tinha sido preanunciado através das inacreditáveis palavras do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, a poucas horas do encontro de segunda-feira. Mais coisa, menos coisa: “Sinto pena pelo povo grego, elegeram para os governar um Governo que age imprudentemente.”
‘Nunca vi acontecer nada de bom na Europa em resultado de um ultimato”, reagiu Yanis Varoufakis à proposta do Eurogrupo, acusando-o de fechar a porta a qualquer negociação. O ministro grego não só deixou no ar o perigo de catástrofe como manteve a linha seguida depois do primeiro confronto com os mercados: que não tencionam deixar de honrar os seus compromissos, mas que precisam de tempo para o fazer; que há medidas que não deixarão de tomar, tenham ou não o acordo da troika, violem ou não o programa de resgate; e que existem “linhas vermelhas” que não serão trocadas por financiamento. Posições que Varoufakis defendeu com razões de natureza económica e também humanitária, de ajuda a uma parcela crescente da população grega, caída na pobreza com a austeridade.
Uma situação difícil, a que a UE continua cega e surda, e que poderá ser dramática caso o impasse continue. Já à vista está o fim do chapéu de chuva da troika e a possibilidade real de o dinheiro começar a faltar, não apenas aos bancos gregos mas também à própria população, para as necessidades básicas do dia a dia.
Ninguém sabe muito bem o que pode acontecer com uma saída da Grécia do euro ou mesmo da UE. Mas terá sempre efeitos dramáticos. E isto sem falar em questões de natureza geoestratégica – que deixam os norte-americanos de cabelos em pé e os russos com um sorriso nos lábios.
Será dramático para o povo grego, que passará sempre por um período muito mais duro do que o que vive hoje. Será mau para a Grécia, porque ficará refém de um qualquer outro poder externo. ?E será mau para a Zona Euro e para a ?UE – admitindo que resistem aos mercados e aos nacionalismos.
Maria Luís Albuquerque perguntou aos jornalistas, na conferência de Imprensa que se seguiu ao Eurogrupo, se ninguém fazia perguntas sobre o pagamento antecipado da dívida portuguesa ao FMI. É, sem dúvida, um marco importante para Portugal. E, noutras circunstâncias, a ministra seria o centro das atenções da Imprensa internacional. Mas as coisas são o que são, pelo que Maria Luís Albuquerque, e os restantes membros do Eurogrupo, deviam era perguntar-se a si próprios por que razão não fizeram os jornalistas perguntas sobre o feito português. A resposta não é difícil…
Uma eventual saída da Grécia é um risco indesejável para todos e traduzirá sempre o falhanço da atual política europeia e do espírito e políticas solidárias que fizeram da UE um lugar único. E tudo isto sem que tivesse sido necessário Marine Le Pen chegar ao poder. O que irá mesmo acontecer, caso nada mude.