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Há algumas coisas que só com o passar do tempo conseguiremos conhecer verdadeiramente. O “caso” GES é seguramente um desses fenómenos. Ainda passará muito tempo até se perceber o que, de facto, aconteceu na queda do império Espírito Santo. Quando e por que razão os problemas começaram a ganhar dimensão anormal, como ficaram fora do controlo dos gestores, chegaram a um ponto sem retorno e levaram, a partir desse momento, à tomada de decisões que apenas o desespero pode explicar.
Outro assunto que está ainda por clarificar é o da PT. Não apenas o que se prende com o “empréstimo”, via compra de papel comercial, que a empresa fez ao GES, como também o da própria fusão com a Oi. As duas histórias podem, até, andar de mãos dadas há muito mais tempo do que se imagina. Mas espera-se que também o tempo permita esclarecer como é possível que uma empresa com a dimensão da PT, com a importância da PT, com o peso que tem na bolsa, na economia e na sociedade portuguesa, tenha podido realizar uma operação financeira com a natureza da que fez com a Rioforte sem que “ninguém” soubesse de coisa alguma – nem mesmo os quadros do topo, do vértice mesmo, dos respetivos grupos empresariais. Como se espera que o tempo permita esclarecer como é que uma empresa como a PT – da fina flor do setor empresarial português – acaba completamente subordinada a uma Oi que prima pela fama da maior falta de profissionalismo e coesão acionista. Como é que chegámos aqui? E como é que esta solução “final” é aprovada com tão grande percentagem de votos em assembleia-geral de acionistas?
Se há coisas que só o passar do tempo permitirá que percebamos, também é verdade que só o tempo nos dará a verdadeira dimensão que elas têm. Todos nós percebemos, muito rapidamente, o impacto que o caso BES tem e pode vir a ter no sistema financeiro nacional. E até mesmo o efeito dominó que faz pairar sobre as empresas e famílias, mesmo que o Novo Banco cumpra com todos os objetivos que se esperam dele.
Mas o que se passa hoje com o GES/BES, e de forma diferente com a PT, o que se passou com a queda do BCP, o que pode sempre vir a acontecer em resultado da venda da EDP ou da Cimpor e de uma possível alienação da TAP – e os exemplos poderiam continuar por aqui fora… – são realidades cujos impactos efetivos sobre a nossa economia e a nossa viabilidade enquanto organização social e política estão longe de apurados.
É verdade que é uma velha discussão, esta dos centros de decisão. Mas é preciso percebermos que não se trata “apenas” da “decisão”, de uma mera questão de orgulho nacional ou de conceção antiquada ou bacoca de poder. Por trás do poder de decisão vem o empenho, a proximidade, o interesse – mesmo o interesse mais mesquinho e egoísta, que também faz andar muita coisa. E vem o cruzamento de interesses, com outras empresas e com o tecido social. Vem a primazia nas escolhas do dia a dia, nas opções de médio prazo, no desenho das políticas, nos investimentos tecnológicos, na criação de centros de competência e de desenvolvimento. Vem a proximidade cultural e física que determina a política de recursos humanos, a escolha dos quadros de topo, a contratação de consultores, a subcontratação de serviços e empresas. Vem a vontade que determina, nos momentos maus, o que fica aberto e o que fecha.
É neste quadro, em pleno ciclo negro do nosso mundo empresarial – para já não falar em termos macroeconómicos – que Portugal aparece a subir vários pontos no ranking da competitividade do Fórum Económico Mundial. Para o bem e para o mal, não será seguramente por força das medidas que este Governo tomou desde 2011. Estas, só daqui a alguns anos poderão fazer prova da sua bondade, e eventualmente já com outro Governo no poder, de uma qualquer outra coligação.
É verdade que há sempre exceções. E que podemos ter sorte com os chineses da EDP ou com os brasileiros da PT. Mas não deixamos de ficar nas mãos da sorte. Ou, simplesmente, pendurados na força conjuntural ou no carisma de um qualquer líder que, amanhã, necessariamente, estará a passar a sua cadeira a qualquer outra pessoa. Um novo líder que já não seremos “nós” – uma qualquer estrutura acionista portuguesa – a escolher. Serão sempre “eles”, que estão lá fora, a fazer essa escolha.
Portugal sobe nos rankings da competitividade à mesma velocidade que perde empresas de referência. Há coincidências felizes… para a propaganda. Podemos ter sorte com todas as PT e EDP, e também com os futuros acionistas do Novo Banco. Mas, como ponto de partida, ter sorte não é, seguramente, não ter empresas portuguesas. E, muito menos, perder as boas empresas que temos para acionistas estrangeiros.
Podem existir hoje melhores condições para sermos competitivos – melhores estradas, melhores escolas, melhor administração pública. Mas é duvidoso que esse potencial possa um dia vir a ser devidamente explorado se não tivermos um núcleo empresarial mínimo, intrinsecamente ligado e interessado no espaço nacional, com capacidade para alavancar a nossa economia.
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