Antenado: Pessoa atualizada e informada, a par das tendências e dos acontecimentos noticiosos. “Esse Marcelo Rebelo de Sousa é muito antenado”.
Arroz: Aquele que só acompanha. Homem que conhece todas as mulheres, que faz amizade, entra no grupo, mas incapaz de triunfar no momento certo. O “amiguinho” microondas, que aquece, mas não come. Também conhecido como “arame liso” (cerca, mas não machuca) e “cantor de churrascaria” (canta enquanto os outros comem).
Bagulho: 1. Maconha. 2. O mesmo que parada/lance/negócio (ver adiante)
Coé: Contração de “qual é”, indagatório. Serve para iniciar uma conversa. “Coé, cara, vai rolar aquela parada?”
Contos/pratas: Moeda. “Esse relógio são 20 contos”.
“Dar para” & “Comer”: No que se refere ao sexo, as mulher “dão para alguém”. Já os homens “comem alguém”. É uma manifestação (ou ilusão) dos papéis a cumprir. Perguntei a uma amiga (portuguesa), se ela “daria para” um “cara” que conhecera numa festa. Ela respondeu: “Não, esse eu comia”.
Dar um 2: Dar duas passas num charro e passar ao seguinte. Regra consuetudinária das rodinhas de fumadores, garantindo que não há gulosos.
Deu ruim: Quando algo corre mal.
É nóis: Celebração do resultado de algo bom, exaltação de um grupo por parte dos seus membros. Como em “Somos nós os campeões”. Também pode ser usado para concordar como uma proposta. “Vamos comer um sorvete?” “É nóis”.
Filé: Mulher bonita, mulherão.
Foi mal: Pedido de desculpas.
Irado: Qualifica algo como positivo (intenso, bonito, fora de série), mais do que “legal” ou “maneiro”.
Já é!: Expressão que indica que se concorda com o que foi dito, usada para marcar o fim de algo e o começo de outra coisa. “Vamos pedir mais uma garrafa de vinho?” “Já é!”
Maluco: Gajo, pessoa, fulano.
Mané, vacilão, prego: Alguém burro, imprestável, otário, que vacila nos momentos chave.
Mermão: Aglutinação de “meu irmão”, termo afetuoso para amigos e conhecidos. Substituído, às vezes, por brother ou parceiro.
Mó: Contração de maior. “Tou na mó fossa, brother“.
Na mão do palhaço: Alguém que perdeu a compostura por causa do álcool ou outras substâncias alteradoras da consciência.
Nego/neguinho: Termo que não designa necessariamente pessoas negras, mas que serve para mencionar qualquer um. O gajo, o fulano, o outro. Numa letra de Caetano Veloso: “Neguinho não lê, neguinho não vê, não crê, pra quê/ Neguinho nem quer saber”.
Parada/lance/negócio: Designam qualquer coisa, como “cena” em Portugal (“Passa aí essa cena em cima da mesa”). Aplica-se a tudo. “Foi um lance louco. O cara roubou o negócio que estava dentro da parada”.
Partiu: Diz-se quando se toma uma decisão, quando se termina alguma coisa e se inicia outra. “Vamos no cinema?” “Partiu.”
Pela-saco/mala: Pessoa chata. “Saco”: testículos. Logo, alguém cuja presença é tão desagradável como ter os testículos pelados. “Mala sem alça” (mais difícil de carregar), uma pessoa muito chata.
Pica das galáxias: O maior, o pintas, o xerife. “Pica”: pénis.
Piranha: Mulher assanhada, que provavelmente “daria para” o namorado da melhor amiga. Também conhecida como pistoleira, piranhuda e bocetinha.
Porra: Interjeição usada com frequência. Bastante carioca. Pode manifestar desagrado ou surpresa. Também pode ser usada como “negócio” ou “parada” – “O cara quebrou aquela porra toda” – ou para sublinhar alguma ideia: “No ônibus faz um calor da porra”.
Sinistro: Adjetiva algo bom. “O Cristiano Ronaldo marcou um golo sinistro na final da Copa”, “A praia estava sinistra”.
Transado: Coisa ou lugar “cool”, com estilo, diferente, que se destaca.
Tu: Pronome pessoal conjugado na terceira pessoa do singular. “Tu é meu brother” “Tu pegou a encomenda?”, “Tu vai dar pra ele?”
Valeu: O mesmo que obrigado. “Valeu, parceiro”.
Viado, viadinho, biba, boiola: Homossexual. Viadinho pode ser usado sem a carga do preconceito, para designar não a orientação sexual, mas o medinho de fazer alguma coisa, a falta de arrojo de um amigo. “Deixa de ser viado e se joga logo do avião”.
0800: Qualquer coisa que seja de graça, entrada livre. Referente aos números de telefone grátis, de empresas e serviços informativos, que começam por 0800.
171: Aldrabão, trapaceiro. Pessoa a quem se aplicaria o artigo 171 do código penal brasileiro: “(aquele que obtenha) para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
Uma história de quase amor
Nas férias do verão, com os pais no trabalho, Juca ficava sozinho em Copacabana. Ia para a praia com os amigos ou esperava na rua a chegada de Berenice, a vizinha que ele tinha visto em biquíni no Posto 6. Quando os amigos descobriram o seu interesse pela mulher mais velha, foram implacáveis: “Juca, coé mermão, vai comer o filé ou vai ser o viadinho de sempre?” Tinham dado um 2 e riam muito. “Neguinho pegando uma coroa… É o mundo se acabando. Juquinha dá uma moral para o bagulho. Valeu. Já é, parceiro. Esse fumo tá sinistro”. Juca acompanhou os amigos num boteco. Em uma hora, os rapazes ficaram na mão do palhaço. Montaram um escândalo, não queriam pagar. O empregado apontou para o mais malandro, “Eu te conheço, maluco, tu é o mó 171. Tu tá me devendo 120 pratas”. O rapaz levantou-se e gritou “0800 geral. Partiu.” Desataram a correr. Pararam na rua de Juca para descansar. Um deles disse: “Lance irado”. Outro disse: “Deu ruim pro mané do bar”. Juca reclamou: “Roubar não tem nada de irado”. O macho alfa do grupo, que se julgava o pica das galáxias, não perdoou: “Porra, Juquinha, deixa de ser pela-saco e cala a porra dessa boca”. Juca encolheu os ombros: “Foi mal”.
Berenice entrou na rua com um vestidinho curto, transado e carregando sacos de compras. Era atriz, uma garota viajada e antenada. Juca correu a abrir-lhe a porta do prédio, pegou nos sacos. Ela disse “Que cavalheiro.” Na calçada, alguém atirou: “Mulher dessa, mesmo piranha, não dá para um arroz como o Juquinha”. Mas a verdade é que Berenice entrou no elevador e disse “Gosto que você me espere todas as tardes”. Silêncio. Quando ela saía do elevador, informou Juca: “Sabe que do meu banheiro dá para olhar o seu banheiro?” Ele correu para o apartamento dos pais. Estava sozinho. Berenice abriu a janela como sugerido, e rodou a torneira, ficou debaixo do jato de água, emoldurada, tão avassaladoramente nua que quase podia desvirginá-lo à distância. No momento mais glorioso da sua vida curta, Juca disse baixinho, dando graças ao Senhor: “É nóis, maluco, é nóis”.