“Não me façam zangar. Vocês não vão gostar de me ver zangado”. O aviso do cientista Bruce Banner antes de se transformar no Incrível Hulk tornou-se numa espécie de guião de Paulo Portas no Governo. Em todos os momentos difíceis, em todas as fases críticas, ele atua como o herói da Marvel transformado em personagem de Hollywood: avisa para que não fique zangado, senão tem o poder de destruir tudo à sua volta.
Nos filmes, aquela frase tem um efeito poderoso sobre os espectadores: eles são os únicos que sabem que Bruce Banner é o Hulk, o homem verde de superpoderes – e os “vilões” na tela nem desconfiam do que lhes pode suceder em seguida.
Na vida real, o guião é, no entanto, diferente. Todos reconhecem que Paulo Portas pode – sozinho! – deitar o Governo abaixo (por isso, num momento de inocente franqueza, Edite Estrela o apelidou de “político mais poderoso do país”, no Congresso do PS que pretendia, no mínimo, instalar António José Seguro nesse patamar). Mas o que também todos parecem reconhecer é que os superpoderes de Paulo Portas se esgotam no momento em que ficar mesmo “zangado”. O que fará depois? Como poderá ter protagonismo fora do Governo e do círculo de poder? Como retaliarão os seus múltiplos inimigos no momento em que ele desfizer a coligação?
Encerrado nesse labirinto, Portas continuará a seguir o guião de Hulk e a avisar: “não me façam zangar”. E o “filme” continuará a repetir-se em todas as reuniões do Conselho de Ministros. Mas, cá fora, os “zangados” serão cada vez mais…