Uma das grandes questões do próximo ano será o futuro da coligação. Aguenta-se ou não? Haverá birras, amuos e mais ou menos desencontros, ou a corda acabará por se partir quando menos se espera – naquele momento absolutamente definitivo em que algo de essencial se quebra e a relação já não tem volta? Não é por razões de mera retórica política que o tema do estado da coligação se deve colocar desde já. Pelo contrário, 2013 será todo ele um ano em que a resistência, ou melhor, a sanidade da coligação será constantemente posta à prova.
Logo no início, os dois partidos vão começar a ratear um corte colossal de mais de 4 mil milhões de euros na despesa estrutural do Estado. Aí virão ao de cima importantes diferenças entre os dois partidos: o PSD, que, com o PS, ajudou a criar a imensa máquina estatal, tenderá a apostar em cortes indiscriminados no Estado Social; o CDS tentará aproximar o setor público do privado, em termos de reformas e prestações sociais. Os dois partidos já começaram a terçar armas sobre o assunto, no Orçamento do próximo ano – o PSD levou a melhor, mas os centristas prometem voltar à carga com artilharia pesada, agora que a troika descobriu as diferenças abissais no valor médio das reformas do setor público, além dos benefícios de cobertura da ADSE (sistema de proteção e assistência aos funcionários do Estado) face aos restantes trabalhadores.
Fevereiro é o mês em que deverá estar concluída a proposta de cortes para entregar à troika, que regressará, nessa altura, ao nosso país para fazer a sua sétima avaliação. Veremos como corre e qual será o estado de alma da coligação quando, a partir de março e até maio, forem surgindo as previsões da primavera sobre a nossa economia. Banco de Portugal, FMI, OCDE e Comissão Europeia vão dizer qual o sentido em que caminha a economia portuguesa, do PIB ao desemprego, da inflação às importações, do investimento às exportações estará lá tudo. E o País poderá verificar se estes dados estão em linha com a execução do mais doloroso orçamento das nossas vidas, o tal em que Passos Coelho acredita ao ponto de achar que vale tudo, em nome de uma qualquer “missão histórica” para a qual o próprio se sentiu ungido… ninguém sabe por quem. E se, de repente, a “missão” de Passos se tornar cada vez mais impossível devido aos números de Gaspar? Como ficará então o estado de alma de Portas e que dirá ele aos Joões Almeida que foram engolindo sapos, mesmo cientes da razão contida na frase lapidar de José Manuel Rodrigues? “Não há química entre os dois partidos”, afirmou este vice-presidente do CDS. E é absolutamente verdade. O PSD teve sempre uma atitude imperial perante o parceiro natural de alianças políticas. A sua vontade constante foi engoli-lo ou, no mínimo, reduzi-lo a uma espécie de apêndice irrelevante – o partido táxi. Por seu lado, o CDS sentiu-se sempre injustiçado face ao protagonismo volúvel do PSD que, qual borboleta irrequieta, quase nunca hesitou em esvoaçar de flor em flor para garantir a vida eterna. Para não perder o pé, o CDS procurou ancorar-se na ideologia como fonte segura de princípios e valores e é justamente por isso que, no fim desta história, os centristas perdem mais. Como sempre fez, o PSD rapidamente renega o líder incómodo e recomeça tudo de novo, da mesma forma. O CDS, perdidas as referências, fica sem chão e sem crentes. E Portas parece cada vez mais cansado.