Quando em março deste ano cerca de 300 mil pessoas protestaram na rua no que ficou conhecido como as manifestações da Geração à Rasca, insinuou-se que estudar não compensa, pois os jovens qualificados de hoje seriam mal pagos e teriam mais dificuldade em conseguir emprego que outros da mesma geração que abandonaram precocemente a escola. Não é bem assim.
Em primeiro lugar, do ponto de vista dos rendimentos, estudar compensa. E em Portugal mais do que noutros países da União Europeia.
Em 2009, a diferença de rendimentos médios entre trabalhadores com o ensino superior e aqueles que se ficaram pelo 9º ano de escolaridade ou por níveis de ensino inferior era de 13.426 euros anuais, segundo os dados divulgados pela Pordata. Esta diferença de rendimentos, medida depois de descontadas as diferenças de poder de compra, foi a segunda maior da União Europeia (UE), apenas ultrapassada pela vantagem dos licenciados que trabalhavam na Roménia. Ou seja, os empregados em Portugal com um curso superior são altamente recompensados face aos trabalhadores com menos qualificações – têm rendimentos 2,3 vezes superiores.
Poder-se-ia argumentar que, contudo, os licenciados portugueses são mais mal pagos do que os dos restantes países europeus. Mas quando se desconta os níveis de poder de compra, verifica-se que o ganho médio dos detentores de um curso superior em Portugal é o 15º mais elevado dos 27 países da UE – à frente, entre outros, dos rendimentos dos licenciados na Eslovénia, Espanha, Grécia e Dinamarca.
É evidente, portanto, que o mercado de trabalho, face aos baixos níveis de qualificação da população ativa, paga um prémio àqueles que têm um curso superior.
Em segundo lugar, o desemprego dos jovens. Portugal não é original ao revelar taxas de desemprego dos mais jovens superiores às de outras gerações. É o que resulta do primeiro embate com o mercado de trabalho. Os jovens de hoje não têm mais dificuldade em encontrar emprego face às restantes parcelas da população do que acontecia, por exemplo, nos anos de 1990.
Na década antes da viragem do século, registou-se uma taxa de desemprego média de cerca de 5,5%. Mas nesse período, a taxa de desemprego dos jovens – ou seja, da população com menos de 25 anos – situava-se em valores médios de 12,3%. O desemprego entre os jovens era portanto 2,3 mais alto do que o desemprego geral da população portuguesa.
Hoje, as taxas de desemprego estão historicamente elevadas, tendo-se batido em 2010 os máximos desde que este indicador é calculado – 10,8% da população ativa estava desempregada. Contudo, o desemprego dos jovens, de 22,4% em 2010, foi 2,1 vezes superior ao da totalidade da população. Por isso, se para todos os cidadãos o emprego é hoje um bem mais difícil de encontrar, não é verdade que os jovens de hoje sejam mais prejudicados face aos outros cidadãos do que noutros momentos passados. Por outro lado, as taxas de desemprego têm sido, ao longo do tempo, menores para quem tem o ensino superior, comparativamente a quem tem o ensino básico ou secundário.
O país, sabemo-lo, está a viver um período muito difícil, em que os jovens são os primeiros afetados. Também é verdade que muitos dos que se manifestaram em março o fizeram não por falta de trabalho mas pelos elevados níveis de precariedade. É difícil fazer uma apreciação desta situação, por causa da falta de dados específicos e detalhados. Os números de 2009 mostram, contudo, que 17% dos portugueses empregados se encontravam na situação de contratados a prazo, o terceiro valor mais elevado da UE, apenas superado pelo da Espanha (21%) e pelo da Polónia (20%).
Em suma, porque é mais qualificada, a chamada Geração à Rasca pode ambicionar ordenados mais compensadores; porque é jovem e tem menor experiência de trabalho, é-lhe mais difícil encontrar de imediato um trabalho seguro, como o dos seus pais. Mas apesar de tudo, sobretudo em períodos adversos, o diploma superior faz a diferença – para melhor.
Para saber mais sobre estes e outros temas da sociedade portuguesa nos últimos 50 anos, consulte Portugal: os Números , o livro dos autores publicado na coleção de ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos