José Eduardo Bettencourt chegou há pouco tempo à presidência do Sporting com uma postura de aparente modernidade, mas rapidamente começa a mostrar tiques antigos, da velha escola de dirigentes desportivos.
Numa altura da época em que os sportinguistas começam a questionar a política desportiva do novo presidente – o primeiro a assumir o profissionalismo da função (e a ser pago em consonância) -, traduzida por uma estratégia minimalista de reforço da equipa de futebol, Bettencourt não apresenta argumentos que não sejam o velho e gasto discurso anti-benfiquista.
No mesmo dia, disparou algumas pérolas que, não servindo de nada para ajudar a reapetrechar a equipa aos comandos de Paulo Bento, sempre deixa encantada a populaça leonina, pelo menos aqueles que se recusam a ver um pouco além do campeonato da Segunda Circular.
Começou pela polémica em torno do jogo de juniores entre Sporting e Benfica em Alcochete, interrompido por confrontos entre as claques e que acabou por merecer um castigo a ambas as equipas e a consequente atribuição do título nacional da categoria aos encarnados. Bettencourt não quis explicar as paupérrimas condições de segurança do centro de estágio dos Leões nem disse porque razão o seu clube se recusou a mostrar as gravações de vídeovigilância do recinto. Nada disso. Preferiu dizer que o adversário foi campeão “à pedrada”, insinuando premeditação nos confrontos e esquecendo que o que não é (ainda, digo eu) possível é ser-se campeão com menos pontos que os adversários.
Mais à frente no dia, insistiu nas alfinetadas ao rival lisboeta, dizendo garbosamente que os sportinguistas não têm de se preocupar com o Benfica, mas apenas com o FC Porto. Uma vez mais, o discurso até terá caído bem à massa associativa do Sporting, pelo menos àquela que parece nada importar-se em não ver o seu clube ser campeão nacional há seis temporadas, pois se satisfaz com o segundo lugar (ou primeiro dos últimos), desde que isso signifique ficar à frente do Benfica.
É preocupante que, com tão pouco tempo de mandato, José Eduardo Bettencourt dê já sinais de, afinal, não ser aquele novo presidente de que o Sporting realmente precisa: Um empreendedor, um gestor criativo, capaz de encontrar soluções para a recuperação financeira e para soltar as amarras dos bancos; Um homem que volte a apostar no ecletismo perdido do clube.
Este discurso recente do jovem presidente leonino parece demasiadamente colado ao do seu antecessor, indo no sentido de eleger o Benfica como alvo único a abater e embarcando nesta estratégia aparentemente esquizofrénica de ter como “principal rival” um adversário que, afinal, também não consegue vencer. Vale o facto de ir ficando à frente do Benfica e de, com a Liga dos Campeões, ir pagando as contas no banco.
Por este andar, José Eduardo Bettencourt, que tanto se esforça por aumentar o número de sócios do Sporting, arrisca-se apenas a mostrar que está é de alma e coração com aquele que é o “segundo clube com mais adeptos do País”: os anti-benfiquistas.