Esta é a história de Joana e Jerónimo, um casal de namorados de Coimbra, que em vez de passar os serões a ver televisão (como dizem na primeira canção do disco), resolveram formar uma banda. Feito altamente improvável atendendo a que, até à data, Joana tinha vergonha de cantar, até baixinho para o namorado, e não sabia tocar qualquer instrumento, nem sequer ferrinho. Jerónimo já tocava guitarra e tinha participado numa ou outra banda, mas “sem grande consistência”. Assim do nada, tudo começou com um assobio, uma linha melódica contra o marasmo, num dia mais cinzento, que acabou por se transformar numa canção radiosa, uma espécie de terapia emocional. E as canções, para quem não saiba, são como as cerejas, e aparecem umas a seguir às outras. Colecionaram melodias e letras na intimidade, até que as resolveram mostrar a um público mais vasto. “Continuo a não gostar muito de expor a minha voz, a sorte é que o primeiro concerto foi longe de Coimbra e não havia quase ninguém conhecido a ver”. Diz, ao JL, Joana, não por lhe ter corrido mal, mas porque se sente mais segura a cantar perante desconhecidos.
O encanto de Birds are Indie, assim se chama a banda, é precisamente essa simplicidade de quem porventura não nasceu para a música, mas a música, ainda assim, nasceu-lhes. É quase um manifesto antivirtuoso, minimalista, mas encantador. “Nada disto é propositado, saiu-nos assim, porque não sabemos fazer de outra maneira”, diz, ao JL, Jerónimo, “mas se soubéssemos como, faríamos melhor”, admite. Mas se tal acontecer, talvez estraguem a coisa, ou talvez abram novos horizontes. A alma é o segredo do negócio. Que não a vendam ao arrevesamento estilístico. Joana e Jerónimo querem-se simples.
Os Moldy Peaches portugueses? Aceitam a comparação com a banda de Juno, mas preferem outras. “Temos em comum o facto de não temos grandes vozes e de não fazer temas complexos”. E, claro, a dinâmica masculino-feminino. O que Joana e Jerónimo querem ser é Joana e Jerónimo, o que quer que isso seja. Crescer em público e levarem-se cada vez mais a sério. Joana até tem aprendido a tocar novos instrumentos, como alguns teclados e a harmónica. E canta com cada vez mais à vontade como se tivesse, ali à nossa frente, no sofá da sala. Parte da graça dos Birds are Indie (deviam mudar o nome parta Joana & Jerónimo, também lhes dissemos) é o cruzamento informal das vozes. E também o erro. Tantas vezes a beleza está nos erros e não na perfeição, que se torna particularmente enfadonha.
Em Coimbra, um amigo desafiou-os para gravar um disco numa netlabel. Seguiram-se dois EP, Life is Long (2010) e Ok, It’s Christmas (2011). Agora sai o primeiro longa duração, How Music fits our Silence, também com edição física. É importante a participação do Henrique Toscano, que produziu o disco. Mas os Birds are Indie continuam a somar canções. A base musical parte sempre de Jerónimo e depois Joana ajuda-lhe a desenvolver. Cantam em inglês, porque sempre lhes saiu assim. Mas Jerónimo admite: “Sentimo-nos melhor a cantar em inglês porque é como se criássemos uma barreira protetora em relação àquilo que estamos a dizer. Contudo, com alguma surpresa, ultimamente saíram-lhes umas canções em português. Talvez os Birds are Indie estejam a entrar numa nova fase, a descobrir as maravilhas da língua portuguesa. Nunca se sabe como será o próximo voo. O que eles querem é ser livres como um pássaro, mas não um pássaro qualquer, um pássaro alternativo subtil e discreto.