<#comment comment=”[if gte mso 9]> Normal 0 false false false MicrosoftInternetExplorer4 <#comment comment=”[if gte mso 9]> <#comment comment=”[if gte mso 10]>
Falou-se, como quem fala de uma amante num casamento, de uma mulher que anunciou a sua morte no facebook, e nenhum dos seus amigos virtuais ligou. Os céticos dão o exemplo como mau presságio da rede social, e da fragilidade deste tipo de relações. Objetivamente, poderemos colocar a questão se a falta de amigos foi causa ou consequência do suicídio. É sabido que os suicidas avisam sempre ou quase sempre das suas intenções. Só que noutros tempos, esta senhora deixaria o tradicional bilhete, sem grande choque público, e na era da tecnologia serviu-se dos meios ao dispor.
O balde de água fria enregela-nos porque o facebook é um espaço feito para que todos nos sintamos felizes. É, por natureza, otimista e proativo, mesmo quando se exprimem desgostos ou se debatem contrariedades. Nada é deixado ao acaso. Há um botão para “gosto”, mas não para “não gosto”. Os amigos acrescentados são anunciados, mas os recusados são simplesmente esquecidos. Os elogios são bem-vindos, mas se a conversa azeda é logo reportada como abusiva.
Várias campanhas têm tentado derrotar o Facebook, até porque o oligopólio de Mark Zuckerberg é bastante irritante. Os caminhos são ínvios. E o tipo de ataques óbvios. Lançam-se questões: quantos amigos do Facebook iriam ao seu funeral? A maioria, provavelmente, limitar-se-ia a apresentar as condolências à família no seu mural. Possivelmente, no futuro, a expressão “amigos da onça” terá como variante “amigos do facebook”. Não se pode contar com eles, sorte é poder contar com alguns dos outros.
Há aqui um erro à partida derivado da nomenclatura: a palavra amigo, no facebook, poderia ser substituída por algo que soasse pior, como “contactos em rede”, “seguidores” ou “pessoas como quem me dou nesta coisa do facebook, alguns nem sequer sei quem são”. Naturalmente, que alguns coincidirão com amigos de verdade. Mas a ideia que os amigos virtuais podem substituir os reais é, no mínimo, doentio. O Facebook é feito para a aproximar as pessoas. Provavelmente há quem o use de forma deturpada. Mas também há quem se sirva de um saca-rolhas para cometer um crime horrendo. E não é por isso que vamos passar a beber vinho de pacote.