Quando Lisboa é a primeira cidade da Europa do sul a receber o título de Capital Verde da Europa, quero aqui prestar homenagem a três notáveis autarcas que construíram este resultado.
O primeiro nome que me ocorre é o do José Sá Fernandes e por isso título este texto relembrando o velho slogan da sua candidatura à Câmara Municipal de Lisboa (CML). Bem sei que ninguém faz nada sozinho e também o Zé não o fez. Poupando-me ao vitupério, o Manuel Salgado e o Fernando Medina foram imprescindíveis. Este resultado é mesmo fruto de um trabalho de equipa, continuado, persistente, com muita teimosia, conquistado palmo a palmo.
Devemos em primeiro lugar ao Zé a aprovação, integração no PDM e execução do Plano Verde desenhado por Gonçalo Ribeiro Teles, que permitiu preservar e valorizar a estrutura verde fundamental da cidade. Não foi fácil. Foi necessário revogar licenças de construção para preservar a Quinta do Zé Pinto e levar o corredor verde a Monsanto. Foi necessário mobilizar patrocínios para fazer obra, quando a Câmara contava cêntimos para pagar os salários. Foram
necessárias muitas horas para negociar e renegociar orçamentos, planos de pormenor. Mas foi assim que as utopias se foram tornando na realidade que podemos fruir.
Não há nada mais difícil do que resistir ao ridículo. Exige muita convicção. E como eram ridicularizadas as ciclovias em 2007, do mesmo passo que eram chumbadas as bicicletas de uso partilhado, “ideia absurda numa cidade de colinas “… Felizmente hoje podemos dizer : quem ri por último, ri melhor. Como o Zé pode rir de quem galhofou da Carta Solar ou desdenhou da reutilização em regas e lavagens das águas residuais devidamente tratadas Ou dos que o traíram na primeira oportunidade, mal se aperceberam que não era uma marioneta do diletantismo radical, mas um apaixonado desta Cidade, na qual queria mesmo fazer obra. E faz.
Ninguém pensou melhor a cidade deste novo século que o Manuel Salgado. E sobretudo ninguém combinaria tão bem o saber pensar com a capacidade de fazer. O Manuel chegou à Câmara com três prioridades : recuperar a frente ribeirinha da Baixa à Expo; libertar a cidade da dependência do automóvel; dar prioridade à reabilitação urbana.
A falta de coragem que adiou sucessivamente a construção do grande coletor de Alfama à ETAR de Alcântara, ofereceu a oportunidade, logo em 2007, de fazer quatro em um. Construir um coletor que eliminou o despejo sem qualquer tratamento no Tejo do esgoto de 200 mil fogos equivalentes, interromper duradouramente a circulação automóvel no Terreiro do Paço, rasgar toda a frente ribeirinha do Terreiro do Paço ao Cais do Sodré, permitindo redesenhar a Ribeira as Naus, impulsionar a partir da requalificação do espaço publico a reabilitação da Baixa. Assim, tem prosseguido. Campo das Cebolas, Terminal dos Cruzeiros, Jardim do Oriente, e que irá continuando …
Não é seguro se a profunda crise económica e financeira que vivemos entre 2008 e 2016, retardou ou acelerou a prioridade à reabilitação. A verdade é que a economia circular encontrou notável expressão na reabilitação urbana, que da Baixa tem irradiado por toda a cidade, amparada numa gestão urbanística que a priorizou e impulsionou no quadro regulatório e do regime de taxas municipais.
As cidades levaram meio século a adaptar-se ao automóvel e agora têm muito pouco tempo para se libertarem desta dependência se queremos vencer o desafio das alterações climáticas.
Que pena não ter conseguido desfazer o Rato ou impor os sentidos únicos do “anel” Escola Politécnica/São Bento. Será que um dia…? Mas devemos a Manuel Salgado a imaginação da construção dos apoios mecânicos à pedonalização dos percursos da Baixa ao Castelo, à Mouraria ou a Alfama E a inteligência com que foi reinventando o eixo central da cidade, do Rossio a Entre Campos, ou o arco ribeirinho de Santa Apolónia a Alcântara, quase sem dor.
Por mérito próprio o Fernando Medina é o presidente da Capital Verde da Europa, que dirigiu nestes decisivos últimos cinco anos. A sua maior marca, neste domínio, é seguramente a ousadia e coragem com que assumiu a gestão do transporte público, quer no Município , quer na escala metropolitana. Impôs as prioridades na expansão da rede de Metro, municipalizou a Carris, lançando novas carreiras, repondo o velho 24 nos carris, ligando o Cais do Sodré às Amoreiras, projetando as primeiras linhas de MetroBus ou o corredor Bus na A5, que vai concretizar nos próximos anos de mandato.
Muitos reclamam a paternidade dos novos passes que revolucionaram a mobilidade metropolitana, melhor, nas duas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. E em bom rigor a paternidade é múltipla. Mas sei bem como o Fernando ficou a matutar no exemplo de um residente em Sintra e trabalhador no Alfeite, que nos relatou as horas perdidas entre meios de transporte desarticulados e o custo da multiplicação de títulos de transporte; como se pôs a estudar alternativas, a procurar boas práticas – “olha que descobri que em Viena o passe é 1 euro por dia”- a casar parceiros, mobilizar vontades, a fazer contas até… , até que conseguiu.
São os três muito diferentes uns dos outros e são precisamente essas diferenças que os complementam e por isso precisam uns dos outros. Não tenho bem certeza se apreciam – e até desconfio que não…- que os evoque aqui , em conjunto Porque são também muito iguais na recíproca teimosia. Mas como testemunha só posso dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que verdade. Como lisboeta, posso acrescentar : muito obrigado Zé, Manuel e Fernando. Que orgulho sermos Capital Verde!