Os antigos egípcios acreditavam na vida para além da morte. E, por isso, preservavam os corpos, para, quando chegasse a hora, fosse mais fácil à alma encontrá-lo. Mas só os mais ricos. Os outros eram enterrados nas areias do deserto, na esperança que a amplitude térmica os preservasse. O mais certo era tornarem-se almas penadas sem corpo onde se enfiar. Os ricos, os poderosos, pagavam avultados dotes para assegurar a sua preservação para sempre. Do corpo interessava apenas a forma, as feições, tudo o resto achavam dispensável. Por isso, esventravam-se os intestinos, arrancava-se o cérebro pelo nariz, enchia-se o invólucro de material menos degradável. e, depois, já se sabe, untavam-se e mumificavam-se os corpos. Junto aos túmulos, deixavam ainda retratos dos defuntos, para que a alma os reconhecesse mais facilmente. E também alguns bens que achavam importantes para que quando o corpo acordasse já com alma e tudo se sentisse mais aconchegado.
Tudo isto se passou há quatro ou cinco mil anos e, até ao momento, ainda não podemos testemunhar qualquer tipo de movimento que sugira a ressurreição de nenhum dos faraós. O facto de nunca ter acontecido não nos dá a total garantia de que no futuro não venha a acontecer: cinco mil anos é um fogacho à escala da eternidade.
O culto dos mortos e a crença nos deuses (em um ou em vários) são características transversais à história da humanidade. São respostas ilógicas à ilógica da vida. Os deuses dos gregos, os deuses dos romanos, o Deus dos hebreus, o Deus dos muçulmanos, as divindades dos Hindus, a Trindade dos Cristãos.
A religião opôs-se à ciência, à medida que esta ia desfazendo alguns dos seus mitos, encontrando explicação para aquilo que até então era inexplicável: que as trovoadas são um fenómeno atmosférico provocado pela elevação de ar húmido numa atmosfera instável; que o universo foi criado numa explosão e expansão de matéria… A religião também soube encontrar o seu espaços nas lacunas da ciência: se a ciência não consegue explicar é porque se trata de um milagre. Até ver.
A ciência permitiu maior longevidade e esperança de vida, superando sucessivamente os seus limites. E, de alguma forma, tornou-se ela própria uma religião. E isso acontece de forma cada vez mais evidente. Em Inglaterra, os pais de uma jovem vítima de cancro, com apenas 14 anos, reservaram-se ao direito de criogenizar o seu corpo, na esperança que, no futuro, seja descoberta a cura para a sua doença.Ninguém os pode censurar. É uma esperança tão ou mais legítima do que aquelas que têm os crentes quando praticam os seus rituais fúnebres. E, curiosamente, parecida com as práticas do antigo Egito, se bem que tecnicamente mais evoluída. Também a Deusa Ciência alimenta a esperança de um dia oferecer ao Homem a eternidade, e revelar-se assim tão divina como as demais divindades. JL
O Homem do Leme: Fé na Ciência
Os antigos egípcios acreditavam na vida para além da morte. E, por isso, preservavam os corpos, para, quando chegasse a hora, fosse mais fácil à alma encontrá-lo. Mas só os mais ricos. Os outros eram enterrados nas areias do deserto, na esperança que a amplitude térmica os preservasse. O
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