Se todos os festivais têm o seu público, há aqueles que também têm os seus realizadores. É o caso do Curtas de Vila do Conde. Ao correr dos anos, muitos foram os nomes que cresceram com o festival, fazendo dele a sua própria casa. A relação é de tal forma intensa que muitos, já entregues aos trabalhos da longa-metragem, regressam ao pequeno formato e à peregrinação anual a Vila do Conde. Rodrigo Areias, Miguel Clara Vasconcelos, Gonçalo Galvão Teles, Jeanne Waltz, Sandro Aguilar e José Miguel Ribeiro são alguns desses compagnons de route que este ano estão novamente em foco, naquela que é a 18.ª edição do festival. De 3 a 11 de Julho, pelo Teatro Municipal de Vila do Conde vão passar centena e meia de curtas-metragens, em várias competições e secções paralelas, mostrando que, também no cinema, 18 anos só se faz uma vez.
Além de integrarem a competição nacional (ver caixa), os filmes portugueses estão também presentes nas secções Take One!, dedicada a primeiras obras e a trabalhos escolares, e Panorama, cujo objetivo é mostrar o que de melhor se tem feito em Portugal na curta-metragem. Os Olhos do Farol, de Pedro Serrazina, O Estrangeiro, de Ivo M. Ferreira, Pickpocket, de João Figueiras, O Verão, de João Pedro Trindade Dias, e Voodoo, de Sandro Aguilar, são os filmes deste ano. Em colaboração com várias instituições, o Curtas apresenta também um panorama do cinema europeu, com destaque para as cinematografias sueca, romena, norueguesa e polaca. As restantes competições – Internacional, Experimental e Curtinhas, com filmes para os 3, 6 e 9 anos – têm filmes provenientes de diversos países, dos Estados Unidos da América à Austrália, passando pela Europa.
Ken Jacobs e Arnaud e Jean-Marie Larrieu são os homenageados desta 18.ª edição, na secção paralela In Focus. Presença em anteriores edições do festival, Ken Jacobs, um dos principais nomes da vanguarda norte-americana das décadas de 60 e 70, dará uma masterclass e interpretará uma performance ao vivo. A Galeria Solar, associada ao festival, exibe projetos de experimentação digital, na exposição Action Cinema. Foi ainda feita uma seleção de filmes representativos das suas propostas estéticas, nomeadamente Star Spangled to Death, com sete horas de duração.
O horizonte mítico que a montanha representa e as narrativas de amor são as obsessões recorrentes dos irmãos Larrieu, realizadores franceses que desde a década de 90 têm vindo a assinar uma idiossincrática cinematografia. O que é bem visível nos filmes que passam em Vila do Conde: o documentário autobiográfico As Janelas Estão Abertas e as longas-metragens de ficção Um Homem a Sério, Os Últimos Dias do Mundo e Pintar ou Fazer Amor, a única que teve estreia em sala em Portugal.
Noutra secção paralela, o Curtas põe os óculos e entra na terceira dimensão. “O sucesso de Avatar e de outros filmes faz com que hoje só se fale da revolução 3D como uma derradeira esperança para salvar a indústria e recuperar os espetadores de cinema”, adiantam os organizadores. “Mas, muito para além disso, o 3D já chegou à formação nas escolas, à televisão e aos jogos vídeo, acelerando uma transformação radical no equipamento das salas de cinema, a ponto de serem sugeridos apenas cinco anos para que todas as salas do mundo passem ao digital”. No entanto, a história do 3D é muito mais antiga do que o atual furor faz pensar. Nas décadas de 50 e 60 viveu-se uma idade de ouro da projeção estereoscópica, com grandes realizadores a experimentarem essa dimensão. São alguns desses filmes que passam no festival, num tempo em que o 3D ainda era analógico: The Bubble, de Arch Oboler, Warhol’s Frankenstein, de Paul Morrisey, Dial M For Murder, de Alfred Hitchcock, e House of Wax, de Andre de Toth. A estes junta-se ainda um filme de Ken Jacobs que nos seus trabalhos usa muitas vezes o 3D como matéria-prima.
A música também marca presença em Vila do Conde, nos já habituais – e muito esperados – filmes-concertos. A oferta, este ano, é diversa e surpreendente. De Rita Red Shoes passam os 13 vídeos feitos a partir das canções que compõem o seu novo disco, Lights and Darks. A convite do festival, os Orelha Negra dão som a uma série de filmes antigos turísticos (Soundtracks For The City), compilados pelo realizador experimental inglês Ian Helliwell a partir de gravações encontradas em mercados de rua e lojas de artigos em segunda mão. Em estreia em Portugal, François Sarhan apresenta o seu documentário animalesco em forma de filme-concerto. Enciclopédia é um projecto multimédia com instalações sonoras, textos, ilustrações, animações e conferências. Já Bruno Almeida junta-se aos Dead Combo, a convite da organização, para Esse Olhar Que Era Só Teu, com imagens e sons para Amália.
Evocando a história do festival, mas com os olhos postos no futuro, o Curtas segue as pegadas dos realizadores que participaram em edições anteriores, na sua passagem da Curta à Longa Metragem. São eles Sam Taylor-Wood, com Nowere Boy, Katell Quillévéré, com Un Poison Violente, Luc Moullet, com La Terre de la Folei, Sharunas Bartas, com Eastern Drift, Tzu Nyen Ho, com Earth, Salla Tykkä, com Airs Above the Ground, Ariane Michal, com La Cave, e os portugueses André Príncipe, Filipa César, Augusto Monteiro, Elias Monteiro e Marco Martins com o projeto Baralha, que inclui os documentários Casas Fantasmas, Propriedade e Rj Baralha.