Aquele ministro liberal merecia o seu descanso. Não acreditava que tivesse direito a ele, porque por princípio era contra direitos adquiridos – como o de preguiçar, à imagem do resto da populaça, mas sim porque merecera aquele descanso.
Aquele ministro liberal acreditava que só o mérito pode estender uma toalha de praia à sombra (concessionada) e pedir um daiquiri carregadinho de rum e de impostos.
Sim, porque aquela espécie de liberais daquele país insólito pertencia a uma seita liberal muito original – por um lado a liberdade de empresa e o mercado sem manápula do estado, mas por outro, e como tinha uma manápula livre, ia metê-la no bolso dos contribuintes, sobretudo os de bolsos mais curtos, porque os outros de bolsos fundos não eram em número suficiente para a sua contribuição ser opípara.
O ministro liberal que acabara de arredondar a pança com uma caldeirada de peixe rico, preparava-se para dormir uma retemperadora sesta – o sono dos justos – acomodado no contentamento inflingido de quem cumpriu um dever messiânico de salvar o país graças à luminosidade das suas ideias.
-O melhor de dois mundos – costumava defender – Acabar com o Estado, mantendo apenas a sua função colectora de impostos.
– Diacho, como é que ninguém se tinha lembrado disso antes.
Depois da sesta o ministro foi banhar-se no lado menos tépido do Atlântico, mas como o mar estava revolto, cheio de algas e com um ou outro cagalhoto a boiar, o ministro, aborrecido por ter areia no rego do cú, tomou uma decisão.
– Onde é que já se viu tamanho desleixo, amanhã vou mandar privatizar o mar, e a um preço apetecível para os angolanos.
Felizmente veio uma onda e nacionalizou-o.