Primeiro um expediente à Grouxo Marx: “Antes que eu discurse tenho algo importante a dizer”. Só para explicitar uma coisa e a partir daí nos entendermos, “com todo o respeito”. Escrever bem não é escrever com correção gramatical, concordância sintática ou sem erros de ortografia. Se assim fosse já não estaria mal, nos tempos que correm – sejamos honestos- mas é muito mais do que isso. Tal como para cantar bem não basta ser afinado e ter boa voz. Mas muito mais do que isso. Num concerto que prometia ser de antologia (mais um com a marca foice e martelo) juntaram-se no mesmo palco , o 25 de Abril, os melhores cantores de atualidade: Jorge Palma, Cristina Branco e Tiago Bettencourt. E também Tim, dos Xutos, a quem preferíamos destacar-lhe o arcaboiço vocal. Formavam a quadrilha perfeita de Jeremias, os fora-da-lei. E eis que chega Jorge Palma (era ele o anfitrião) “com três vinténs e o ar de quem não tem muito a perder”. O compositor possui aquele dom único, que não dá para colocar por palavras, de aspirar no momento certo para pronunciar as sílabas numa fase um nadinha adiantada da melodia. E isso, o timbre, a originalidade, tornam-no tão especial que “se eu fosse crítico de arte havia de declarar-te obra-prima à escala mundial””. Depois veio a maravilhosa Cristina Branco a cantar a maravilhosa música Minha Senhora da Solidão. O problema é que o concerto parecia quebrado, como as claras em castelo que, por mais que se batam, não ganham consistência nem densidade. Foi isso que aconteceu, não havia ligação entre Palma e os convidados, perderam-se momentos, desconcentrava-se o público e desconcertava-se o concerto. Só a banda de Palma, os Demitidos, mantinham a impassibilidade de sempre, como se fosse costumeiro o tresvario. O compositor não deu espaço aos convidados mas também não ocupou o seu. Houve alturas em que parecia que assistíamos a uma versão de Hollywood Ending, em que um realizador cego dirige um filme desconchavado, mas em versão sonora, como se o director daquele concerto fosse um surdo. Palma “tróikava-lhes” as voltas. Mas as músicas eram tão boas, e “já passaram mil anos sobre o nosso encontro”. Resumindo: os bons momentos quando foram bons foram mesmo muito bons. “Não se pode estar direito quando se tem a espinha torta”” Ai, Portugal, Portugal… Palmas para o Palma? Sempre. “E enquanto ventos e mares a gente não vai parar”.
Festa do Avante
Jorge Palma com Cristina Branco, Tiago Bettencourt e Tim
8 de Setembro
Quinta da Atalaia