O desafio é um mergulho musical através de um sistema de som em cúpula raro em Portugal. O espaço Lisboa Incomum, no bairro do Rego, recebe a 1ª edição do Festival Imersivo, dias 19 e 20, dedicado à música eletroacústica com tecnologia de ponta. São interpretadas peças de Jorge Sad Levi e Pablo Magne, Denis Miller, Chikashi Miyama, Marta Domingues, Hugo Vasco Reis e Jaime Reis, uma videocomposição de João Pedro Oliveira, uma instalação sonora de Carlos Caires e uma exposição de Francisco Barahona. O JL falou com o compositor e professor Jaime Reis, o mentor do projeto.
JL: Como surgiu este festival?
Jaime Reis: O Festival Imersivo vem no seguimento do festival DNE, que ocorre várias vezes por ano em volta das tecnologias de som inerentes à música eletroacústica. A ideia do festival vem do facto de o espaço Lisboa em Comum ter dois novos sistemas de cúpula. São sistemas que já existem noutros países desde a década de 70, em algumas instituições a nível permanente. Em Portugal, os sistemas imersivos ainda são uma novidade.
Uma novidade tão grande que convém explicar de que se trata…
Prossupõem algumas dezenas de altifalantes colocados numa geometria semiesférica. Desta forma é possível realizar caminhos de som, em que fisicamente as pessoas escutam música que foi desenhada para ter parâmetros de espacialização em que o som viaja à volta delas. As pessoas ficam realmente imersas num sistema de som em volta.
É aconselhável fechar os olhos?
É muito aconselhável. O Stockhausen dizia que esta música deve sempre ser ouvida de olhos fechados ou olhando para um ponto fixo para nos podermos focar melhor apenas no som. Neste festival também temos um concerto dedicado a video music. No caso há exatamente o mesmo número de colunas, mas com peças concebidas com som e imagem.
Tudo requer composições para este sistema?
Sim, todas elas foram criadas para um sistema semelhante. Há empresas estrangeiras que desenvolvem equipamentos especializados. Por aqui temos a colaboração do professor Carlos Caires, que está a desenvolver um software que pode ser experimentado numa instalação artística, durante o festival. As pessoas podem desfrutar da espacialização do som com recurso apenas às suas próprias mãos, através de um interface. Também vai funcionar como ferramenta de estúdio, que ficará em permanência no Lisboa em Comum, para auxiliar os artistas que lá queiram ir trabalhar. Permite-lhes fazer composições mais especializadas.
Algumas das composições são suas…
Sim, foram encomendas de outros países, que têm sistemas imersivos há muito anos.
Como se compõe para este sistema?
Recentemente tenho-me debruçado na minha investigação sobre as práticas orquestrais do passado aplicadas a esta tecnologia. Uma técnica que me interessa muito é a ideia de contraponto polifónico. É muito estudado na renascença, aqui interessa-me saber como enfatizar a polifonia por percursos espaciais
As peças são tocadas ao vivo?
O sistema permite peças ao vivo ou adaptadas à sala. Nós optámos por gravações que serão calibradas em tempo real. Vamos também ter uma peça estéreo espacializada em tempo real.