Então ainda não se sabia, mas o nº 10 do JL, de 7 a 21 de julho de 1981, seria o último, não especial, com a capa desenhada por João Abel Manta, e profusamente ilustrado com desenhos seus feitos especialmente para o efeito. De facto, só no nº 11 se anunciaria que o grande artista estava de merecidas “férias”, mas “voltaria em breve” – só que, infelizmente, como eu temia, não voltou, da mesma forma regular, embora voltasse sempre que lho solicitei, sobretudo em edições especiais. Mas essa pequena história fica para outra ocasião, vejamos agora que o desenho da capa de João Abel temos frente a frente Antero de Quental, em grande, e Alexandre Herculano, mais pequeno: o texto sobre os dois, a que a ilustração se reporta, é de Joel Serrão, acompanhado de um “quase inédito” de Antero.
A primeira matéria da edição, porém, também com um excelente retrato de João Abel, é outro poeta, o “poeta parceiro” (de muita da melhor “bossa nova”), como o nosso Irineu Garcia intitula o seu magnífico artigo/evocação, no 1º aniversário da sua morte, de Vinicius de Moraes, de quem era amigo. Mais, foi num “selo” discográfica de Irineu, “Festa”, que saiu o primeiro LP da “bossa nova”, com música de Tom Jobim, letras de Vinicius e tendo como intérprete Elisete Cardoso (participação ainda de João Gilberto): Canção do amor demais. Título do colunista da Zona Tórrida do JL, como ele conta num texto, que antecipamos, para a contracapa de da reedição do disco. Uma expressiva foto, de quarto de página, de Vinicius com Irineu, e outra do poeta com Tom e Elisete, ilustram também essas quatro páginas que incluem ainda – aqui na “casa” procuramos, embora muitas vezes não consigamos, sempre mais -, uma crónica de Alexandre O’Neill – “Vinicius nunca mais!”.
E vem só nas pp. 16 e 17 a triste matéria sobre a primeira morte de um grande escritor português, e em simultâneo um meu amigo próximo, que nestas colunas tivemos de registar – e só não foi capa porque tinha sido exatamente a capa, e tema, do nosso nº 8: Carlos de Oliveira. De facto, apenas com 59 anos, o autor de Sobre o lado esquerdo morreu, subitamente, no dia 1 de julho. E nesta edição escrevem sobre ele quatro destacados escritores, de diferentes gerações, também seus amigos: Mário Dionísio, José Cardoso Pires, Fiama Hasse Pais Brandão e Gastão Cruz. Por sua vez, volto a fazer/escrever uma coluna de abertura do jornal, falando do Carlos como escritor, como pessoa e como alguém, com quem à época eu tinha um convívio assíduo, que sempre me incentivou nesta aventura do JL – se houver oportunidade, a isso voltarei noutra altura.
Entre outros destaques: “As ilusões da razão”, de Sottomayor Cardia, e “Notas para uma teoria do silêncio como negação”, por Ana Haterly, dois textos da área da filosofia da autoria do ensaísta e anterior ministro da Educação, e da poetisa e também ensaísta; “Os novos hábitos do casal português”, um estudo/reportagem do nosso colaborador regular, ao tempo redator de O Jornal, Francisco Vale, que lhe acrescenta as histórias de “três ligações perigosa”: Lou Andres Salomé/ Nietzsche/ Rilke, Simone de Baeauvoir/ J. P. Sarte e Yoko Ono/ John Lennon. E, no domínio dos exclusivos que então tínhamos em parceria com O Jornal, uma entrevista com Léo Ferré e a exposição da obra gráfica de Picasso em Madrid.
Além de tudo isto, por exemplo, Luís Francisco Rebello escreve sobre Saroyan, e entre as numerosa críticas (de cinema, livros, teatro, música, fotografia, rádio, tv, rádio), Rui Mário Gonçalves dedica uma página à exposição de Costa Pinheiro sobre Fernando Pessoa, Maria de Fátima Marinho escreve sobre a Poesia Toda, de Herberto Helder, Luís Miguel Nava sobre as traduções de Eugénio de Andrade e Fernando Pereira Marques sobre uma obra do general Loureiro dos Santos. As crónicas são de Augusto Abelaira, Mário Cláudio, Alexandre Pinheiro-Torres – e no seu “O amador de poemas” David Mourão-Ferreira traduz e comenta Eustace Deschamps.