Tivesse Susana Monteiro só tempo para criar e fazer peças de mobiliário novas e imaginação não lhe faltaria. Tudo serve, até pregos e parafusos ferrugentos como os que tem distribuídos por pequenos baldes no chão da oficina. Antigamente, Susana andava à caça de tudo o que era abandonado na rua, apesar de não ter espírito de respigadora. Agora, já são as pessoas que vão deixar a tralha que já não querem à porta da sua oficina, um barracão no Magoito, na zona de Sintra. Na Má Lenha só não entram peças de aglomerado (aparite), pois não têm a qualidade mínima necessária para serem trabalhadas. “Compramos o mínimo possível. A madeira reutilizada dá mais trabalho mas o resultado final tem mais história”, explica Susana, enquanto dá mais uma de mão com tinta amarela num armário velho, a caminho de ser novo.
Há sete anos, Susana Monteiro e João Alves, 38 e 41 anos respetivamente, começaram a faturar. Para trás, ela deixou a carreira nas telecomunicações, e ele, os dias passados para trás e para a frente no táxi próprio. Seguiu-se um curso de restauro e outro de marceneiro para aprimorarem o jeito para darem vida à tralha antiga. Susana sempre fez restauro de peças velhas e transformação de mobiliário, depois foi só pegar o bichinho a João que passou a andar com o lápis preso atrás da orelha e a fita métrica no bolso. Juntos, o casal começou por fazer várias peças e apresentavam-se com elas em muitos dos mercados que surgiram em plena crise. Assim se deram a conhecer a publicidade boca-a-boca foi a melhor forma de conseguirem resistir. Entretanto, já têm uma loja aberta em Campo de Ourique, o Outlet do Bairro (R. Almeida e Sousa, 21A, Lisboa), onde misturam os móveis com peças de cestaria e faiança portuguesa.
A dupla criativa da Má Lenha tanto faz um móvel de raiz com madeiras novas, como pega num móvel antigo e transforma-o numa peça contemporânea. “Por vezes, o aspeto final até parece mais difícil do que é na realidade.”
Susana Monteiro e João Alves também inventam coisas loucas como candeeiros feitos com berbequins, secadores de cabelo, varinhas mágicas, ferramentas de marceneiro, púcaros ou radiografias. Uma escrivaninha que parece um móvel de mercearia, robôs feitos a partir de ferragens, uma credência transformada em lavatório, cadeirões forrados com sacas de café ou bergères forradas com patchwork são outras das criações. Mas 90 por cento são encomendas de peças específicas, com determinadas dimensões. Cada vez mais os clientes sabem o que querem e até lhes levam recortes de revistas e fotografias do que pretendem.
Apesar das mais recentes tendências darem primazia ao estilo industrial, com a madeira de aspeto rústico, de linhas direitas, e muito metal à mistura, há “cada vez há mais ‘misturada’ de estilos, cores, materiais, e de novo e antigo.”
A preocupação ambiental faz com que na Má Lenha não usem vernizes, tintas plásticas ou qualquer outro material tóxico ou com cheiro. Susana fica-se pelas ceras e tintas de água. Anda sempre a descobrir e até a inventar técnicas que usem a mistura das duas, algo bastante comum. “A fazer experiências para umas técnicas acabamos por descobrir outras”, conta.
Nos workshops, de entrada livre, que vão organizar no VISÃO Fest, no fim de semana de 21 e 22 de abril, Susana e João vão ensinar técnicas de acabamento de móveis, desde o decapê normal, decapê francês até à aplicação de gesso que cria a ilusão de talha esculpida na madeira. A partir de um retângulo de madeira velha as pessoas serão convidadas a fazer um cabide, que no fim do ateliê levarão para casa. É só arregaçar as mangas.
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Marcos Borga