A azáfama é grande, mas o sentimento dominante não é o cansaço. “Divertimo-nos imenso”, assegura Joana Calado, 36 anos, diretora-técnica da Casa Dr. Alves, uma instituição da responsabilidade da Fundação Dr. Agostinho Albano de Almeida. “Qualquer coisa que saia da rotina é sempre extraordinário”, acrescenta.
Apesar de ainda estarem a fazer o balanço da última ação em que participaram, a equipa da Casa Dr. Alves, em Ourém, já está a preparar a próxima. No próximo fim de semana, realiza-se a tradicional sardinhada que, mais do que ajudar a angariar fundos através da venda de bebidas e doces (as sardinhas são grátis), dá a conhecer o trabalho da instituição à comunidade onde está inserida. “Gostamos de trazer cá as pessoas e de as envolver na nossa vida”, explica Joana Calado.
Dar a conhecer a instituição foi também um dos objetivos da ação do passado domingo, que contou com o apoio da VISÃO, SIC Esperança e Comunidade EDP, no âmbito da iniciativa Por Um Bairro Melhor. Mais de duas dezenas de pessoas foram para a rua, com muitos panfletos para distribuir, convidando os residentes do concelho de Ourém a assistirem a uma sessão de esclarecimento que irá decorrer na sexta-feira, 1 de julho, sobre o projeto Famílias do Coração, a grande aposta da Casa Dr. Alves – Casa de Acolhimento para ajudar a melhorar a vida das crianças e adolescentes que acolhe.
A “casa do miminho”
A instituição recebe crianças e adolescentes do sexo feminino, entre os 2 e os 18 anos, que enfrentam situações de risco e que por esse motivo deixaram de estar ao cuidado das famílias biológicas. “A maior parte dos casos são de crianças que já fugiram de casa, com elevado absentismo escolar e muita dificuldade em aceitarem regras”, sintetiza Joana Calado. Atualmente, há cerca de trinta crianças e adolescentes ao cuidado da equipa da Casa. Excecionalmente, aceitaram receber quatro rapazes, entre os 4 e os 10 anos, para evitar separar grupos de irmãos.
Afinal, os afetos são o principal capital da instituição. “Recebemos miúdas revoltadas, sofridas, mas esta é a ‘casa do miminho’, fazemos questão que exista uma grande proximidade entre nós e as meninas”, garante a também psicóloga clínica, ligada à Casa há 12 anos.
“Quando chegam a casa vêm sempre dar-me um beijinho e, se não vierem, eu chamo-as”, revela, entre risos, a diretora da instituição, habituada a trabalhar com as meninas à sua volta no gabinete – habitualmente mantém de portas abertas.
Missão abrir corações
A alteração da lei que regulamenta o acolhimento foi o ponto de partida para a criação do projeto Famílias do Coração: “Prevê-se que os tribunais irão passar a privilegiar o acolhimento familiar em detrimento da institucionalização e queremos contribuir passando a fazer a ponte entre as crianças e as famílias de acolhimento”, esclarece.
Através do programa Famílias do Coração, a instituição pretende criar uma rede de famílias disponíveis para apoiar as crianças e adolescentes acolhidas de diferentes formas:
Família de Afeto: Recebe as meninas nos fins de semana ou períodos de férias, contribuindo para o seu sentimento de pertença e dando-lhes a conhecer outras dinâmicas familiares. “Já temos algumas famílias destas, mas queremos mais”, apela Joana Calado.
Apadrinhamento: Permite apoiar, de forma anónima ou não, uma ou mais crianças da instituição através de donativos monetários ou ajuda funcional (como procurar estágios). No início do ano letivo, por exemplo, é habitual aparecerem “padrinhos” que subsidiam o material escolar de algumas crianças.
Amigo da Casa: Voluntários que oferecem o seu tempo para ajudar nas diversas tarefas da casa ou dinamizar o espaço. Atualmente, por exemplo, há vários professores que se deslocam à instituição para darem explicações e ajudarem nos TPC, mas também há quem dê aulas de artes marciais ou yoga.
Próximos passos
No domingo, deram o primeiro passo para a criação desta rede, aproveitando o movimento gerado pela realização das festas da cidade de Ourém e convidaram a população que se encontrava no centro de negócios local a assistir à sessão de sexta-feira, 1 de julho, às 20h30, na Casa Dr. Alves. Será nesse dia que as várias modalidades das Famílias do Coração serão pormenorizadamente explicadas.
Uma das muitas pessoas que aceitou os panfletos distribuídos na cidade sobre o projeto decidiu começar a ajudar naquele momento: comprou vários doces na banca de pastelaria da instituição, mas não os levou para casa… Ofereceu-o às meninas residentes na Casa Dr. Alves.
Atualmente, a instituição também aguarda a resposta da Segurança Social relativamente a um pedido para se tornar uma instituição de enquadramento entre as crianças e famílias de acolhimento a tempo inteiro (sempre por períodos temporários), mas decidiu começar já a sensibilizar a população para esta possibilidade. Neste caso, as famílias de acolhimento receberão uma verba da Segurança Social e serão acompanhadas pela equipa da casa de acolhimento.
Para Joana Calado, o mais importante não é a modalidade de apoio escolhida: “O que precisamos é de pessoas que venham ajudar de coração”.
Por um bairro melhor é a iniciativa que une a VISÃO, SIC Esperança e a Comunidade EDP em busca dos vizinhos mais ativos do País. Participe, dê ideias, contribua. Tudo por um bairro melhor.