O método mais original de dar autógrafos no país pertence, provavelmente, ao escritor norte-americano Richard Zimler, 60 anos, residente na Foz do Douro, Porto, há 25 anos e naturalizado português desde 2002. O autor de Os Anagramas de Varsóvia (Porto Editora, 2009) está habituado a que os seus fãs deixem livros para assinar nos cafés que frequenta na Foz. Aos leitores, basta irem buscar a obra na próxima ida ao café, já devidamente autografada enquanto o escritor ali tomou o pequeno-almoço ou lanchou. “Criei relações afetivas com os funcionários do comércio da zona, todos me conhecem e não se importam de ajudar os meus leitores”, conta, divertido, Richard Zimler.
O seu amor pela Foz é antigo, ainda antes de trocar definitivamente a Califórnia (EUA) pelo Porto já ali tinha um apartamento. A ideia de viver num subúrbio e de precisar de usar o automóvel para qualquer deslocação nunca lhe agradou. “Como não uso carro, precisava de um bairro onde pudesse comprar fruta, ir ao restaurante ou encontrar fita-cola com a facilidade de uma caminhada”, explica. Já quase nem é preciso dizer que detesta centros comerciais e prefere o comércio de rua.
Richard Zimler delicia-se com a simpatia dos que o conhecem e são simpáticos, “sem nunca chatearem”. No entanto, nota a formalidade dos portugueses que o tratam por “Sr. Dr.” apesar dos anos de contacto. “Nos correios já me chamam Richard”, conta, como se se tratasse de uma vitória.
Perto da cidade, longe do stresse
Ver a Foz tornar-se mais multicultural, sem perder a sua identidade, também lhe agrada. Aliás, quando chegou ao Porto, nos anos 90, o que mais o surpreendeu foi a falta de diversidade a que estava habituado em S. Francisco, na Califórnia. Richard Zimler contraria a ideia de que a Foz é “um bairro luxuoso”. De acordo com o escritor, “há uma mistura de pessoas de várias classes sociais” e “nenhum elitismo”.
Faz parte da sua rotina escrever em casa, filas de trânsito de 45 minutos para chegar ao trabalho soam-lhe a pesadelo. “Estou muito grato por não sentir o stresse habitual das cidades. Isso não tem preço”, afirma. Na verdade, reclamações, só tem uma: “Ainda não temos uma livraria no bairro, é uma vergonha!”.
Apesar de reconhecer o perfil literário do bairro, Richard Zimler sente que não é o escritor certo para essa história. Mas não esconde o entusiasmo pelo passado da Foz, “uma antiga aldeia de pescadores do séc. XIX”.
Quando chega um amigo do estrangeiro, tem sempre pressa de mostrar a “natureza mágica” que há por perto. “Ter o rio e o mar tão próximos dá um imenso conforto emocional”, confessa. O Douro e o Atlântico. Logo ali, no bairro que é o centro do seu mundo.
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