No âmbito da iniciativa Por Um Bairro Melhor, que une a VISÃO, SIC Esperança e Comunidade EDP em busca de projetos que revitalizem os bairros portugueses, o arquiteto Manuel Graça Dias dá pistas sobre o que procura o “bairrista” do séc. XXI, dividido entre a fantasia do ritmo do campo e o cosmopolitismo da cidade.
A residir próximo da Calçada da Estrela, em Lisboa, Manuel Graça Dias confessa que também ele sente alguns dos problemas que afetam os bairros lisboetas: “Gostava de ir para o Bairro Alto no elétrico 28, mas desisti porque está praticamente só ao serviço dos turistas”. A distância de 500 metros que separam a sua casa do atelier permitem-lhe uma vida de bairro que tanto pode passar pelos cafés mais próximos, como pelo supermercado ou por uma ida à farmácia ou ao banco, sempre a pé.
Manuel Graça Dias identifica o excesso de automóveis como um dos problemas dos bairros e indica caminhos para o futuro da vida de bairro contemporânea.
O que é que faz as pessoas apaixonarem-se por um bairro?
Haverá muitas respostas possíveis… Para começar, ter nascido num determinado bairro ou ter lá crescido, há sempre uma nostalgia associada ao sítio onde se brincou, onde se estudou, onde se foi feliz. Depois, há as pessoas adultas que escolhem o bairro de acordo com as facilidades que encontram nessa localização: a proximidade dos amigos, dos serviços, do trabalho… Em todos os casos há um traço comum: o bairro é sentido como tal.
Atualmente, há uma certa nostalgia pela vida de bairro?
Em Portugal há pouco espaço para isso. Talvez em Lisboa, Porto, Coimbra ou Braga, mas nas cidades mais pequenas não há essa nostalgia porque as pessoas têm facilmente um ritmo de vida mais calmo. A vida de bairro numa cidade grande tenta reativar o ritmo da província, mas com um lado mais cosmopolita. Ou seja, vou dar uma volta e facilmente tenho acesso a uma grande diversidade cultural, mas quando quero fecho-me na concha e vou ler o jornal para o café da esquina.
Faz sentido tentar recuperar essa vida de bairro tradicional na contemporaneidade?
A ideia de vida de bairro está relacionada com uma nostalgia por uma cidade mais calma que já não existe. Nos anos 50 não se falava do bairro porque todas as pessoas estavam lá. Nessa época, não existiam nem frigoríficos nem a pílula anticoncecional nem automóveis. Das três invenções, eu escolho o frigorífico e a pílula, substituindo o automóvel pelos transportes públicos de qualidade. Se caminharmos nesse sentido talvez possamos vir a falar de um novo tipo de vida de bairro.
Os automóveis são um dos problemas dos bairros de hoje?
Todos a circular ao mesmo tempo em automóveis privados torna-se impraticável. Temos de repensar a maneira como nos deslocamos para passarmos a utilizar mais o transporte público, andando também a pé para diminuir o stresse que é atravessar a cidade.
Os bairros históricos exercem uma grande atração sobre as pessoas…
É tudo inventado. A maior parte das pessoas que vivem nos bairros históricos não têm onde pôr o carro… O que hoje assistimos é à gentrificação dos bairros históricos, muito por causa do turismo, a casa vazia é ocupada por um hostel e não por uma família com filhos… Claro que há quem prefira os bairros históricos, mas não há um movimento nesse sentido.
Por um bairro melhor é a iniciativa que une a VISÃO, SIC Esperança e a Comunidade EDP em busca dos vizinhos mais ativos do País. Participe, dê ideias, contribua. Tudo por um bairro melhor.