A atenção aos laços de proximidade parecem uma tendência global nas grandes cidades. Acha que é uma moda passageira ou algo mais substancial, que vai alterar o modo de pensar planear as cidades?
A tendência é estrutural. Há cada vez mais gente a viver nas cidades e grande parte do PIB vai para a construção dessas cidades. Neste contexto é preciso criar proximidade e lugares interessantes onde as pessoas se possam encontrar. Chamamos a isso creative placemaking. Isto é muito importante porque sabemos que novas iniciativas resultam do confronto entre diferentes indivíduos. Essa é a principal fonte da criatividade e da inovação. Isso não acontece nos subúrbios.
Quais são os grandes desafios que se colocam neste momento às grandes cidades?
Espera-se que em 2030 existam 41 mega-cidades no mundo, e neste momento a maior parte da população mundial já vive em cidades. Os desafios que se colocam às mega-cidades são totalmente diferentes dos que enfrentam as cidades médias. Neste momento já há grandes cidade com problemas muito complexos, como Hong Kong, com graves deficiências na habitação, ou nas novas cidades chinesas. As pessoas não querem viver nestas grandes áreas anónimas, com torres gigantescas. A maior parte das pessoas gosta de cidades como Barcelona, Lisboa, Roma ou Siena. Nessas cidades a vivência é mais diversificada, há maior intimidade e (muito importante) com uma vida de rua muito interessante. Já há uma grande competição entre mega-cidades. A principal questão tem a ver com a qualidade de vida. Há uma competição muito interessante em Pequim por causa da enorme concentração de pessoas altamente qualificadas mas que, por outro lado não querem viver numa cidade tão poluída. É esta a guerra pela conquista de talentos: como é que uma cidade é capaz de os seduzir e atrair. Muitos vão por causa da educação, mas saem logo que podem quando pressentem que algo vai mal com a qualidade de vida. Não tem a ver apenas com a existência de equipamentos, como habitação, transportes, espaços públicos, jardins, mas com cultura, educação, laser.
Quais são os aspectos mais delicados para uma mudança de vivência efectiva?
Um aspeto importante nas cidades actual é o da mobilidade. Valoriza-se o uso da bicicleta e passeios onde se possa caminhar. Isto tem que ver com a sustentabilidade, mas com aspectos sociais. Há 25 anos era quase impossível andar de bicicleta em Paris e agora a cidade tem a pretensão de ser uma das capitais mundiais do bom uso da bicicleta. O mesmo se passa com Londres, Toronto ou São Francisco. Outro aspecto importante é o das equidade e desigualdade. Especialmente nas grandes cidades a desigualdade é um problema. Em Londres é quase impossível a uma família da classe média suportar os custos de uma casa. Como consequência tem de passar longos períodos na deslocação até ao trabalho. Entretanto os preços aumentam porque as classes mais ricas querem ter uma casa no centro de Londres. Muita da desigualdade nasce do preço da habitação. É a grande questão quase em todo o lado e com a qual as cidades têm de ligar, ou terão cada vez mais excluídos.
Falou da qualidade de vida e da desigualdade, num momento em que muitos estudos apontam para uma subida dos níveis e pobreza nas grandes cidades. Como é que planeameo pode ajudar a resolver este problema?
As as grandes cidades têm muitas vantagens e capacidade de atracção, como a cultura, mas também têm uma enorme concentração de pobreza. Recentemente dois cientistas publicaram um estudo sobre esse tema nos Estados Unidos. Eles sublinham que o principal problema não é o envelhecimento, mas a grande concentração de pobreza. é uma catástrofe, especialmente nas gerações mais novas. No que se refere ao planeamento ou administração local, as pessoas estão cansadas de burocracia. Rejeitam-na. Cada vez mais são necessários cidadãos com iniciativas, o que nalgumas cidades é complicado de fomentar por causa da tal burocracia. É um problema para resolver. os políticos têm de se focar nisso. Há muito por fazer.