As cidades são organismo que funcionam a várias velocidades e em escalas muito distintas. Pode-se chamar vizinho a quem vive na porta ao lado, como na cidade mais longínqua dom planeta. A proximidade passou a ser possível a vários níveis, mas é a palavra que comanda a vida e está no lado oposto do anonimato. “A identidade das cidades passa por essa diversidade e é na diferença, na sua essência, que cada grande cidade pode competir num mundo global”, refere José Manuel Félix Ribeiro que, com João Ferrão, está a desenvolver a “Iniciativa Cidades”, para a Fundação Calouste Gulbenkian, um projecto que quer promover o debate público sobre o papel das cidades na economia global, constituindo uma espécie de rede com competências que se complementam.
É neste sentido que o bairro e o globo não podem ser pensados separadamente conforme se tem percebido pelas conversas e ideias que têm passado por estes meses em a Visão e a Comunidade EDP têm dedicado à promoção de ideias que visam melhorar as condições de vida nas cidades. Todos Queremos um Bairro Melhor já elegeu as dez ideias vencedoras, mas o debate continua.
“Perspectivar e preparar as cidades portuguesas de forma global, promovendo-as no que têm de mais competitivo, é a única maneira de tentar sair da crise em que nos encontramos”, sublinha José Manuel Félix Ribeiro que não dissocia a capacidade competitiva e de criação de emprego com a qualidade de vida que uma cidade pode oferecer para atrair essa mesma competência. “É uma perspectiva cosmopolita que tem de nos guiar”, adianta e que está na base de atracção e criação de emprego num mercado cada vez mais competitivo.
Nesta base, o estudo dividiu o país em três grandes núcleos urbanos distintos: o Nordeste, com o Porto, Braga e Aveiro; o arco metropolitano de Lisboa, uma vasta área desde Leiria, Sines e até Évora, no qual Lisboa surge como marca, reconhecida internacionalmente e capaz de alavancar o resto da região: há ainda e Coimbra, com a disseminação de conhecimento para as cidades do interior centro.
“São as grandes áreas motoras de desenvolvimento do país”, salienta, “capazes de produzir conhecimento e inteligência de apoio às decisões dos vários agentes económicos, institucionais e da sociedade civil”, num discurso onde entram sempre duas condições: sustentabilidade e inclusão, duas características essenciais a este movimento de proximidade que a iniciativa da Visão e da Comunidade EDP também têm sublinhado desde o seu arranque, em Janeiro e que irão estar no centro do congresso que se irá realizar no próximo dia 28.
A grande maioria dos estudos actuais, como os desenvolvidos por Thom Ausseman apontam para a necessidade de promover o local para que o global se possa concretizar. Um modo de mitigar desigualdades e estabelecer laços sociais que consigam compensar a cada vez maior competitividade. É uma corrida difícil pela humanização mas parece a única possível de suportar os desafios que se apresentam às cidades onde vide grande parte da população mundial.