Qual é o seu limite em relação ao Governo? Um novo pacote financeiro, uma certa fasquia do desemprego?
Eu sou um democrata, este Governo tem uma maioria que o suporta na AR e o normal é que o ciclo político se complete. Estou a trabalhar para 2015. No que diz respeito aos objetivos, nós estamos lá para ajudar. Mas já nos separámos em outubro [Orçamento], em relação ao caminho a seguir. Eu avisei que o caminho escolhido ia avolumar os problemas. Não consigo vislumbrar mais medidas de austeridade. Defendo, por exemplo, pelo menos, mais um ano para a consolidação das contas públicas.
O próprio FMI já admitiu a hipótese de um novo pacote de ajuda…
Isso significará o falhanço da política do Governo.
E o que fará o PS?
Não me pronuncio sobre cenários. Digo, há meses, que a paixão pela austeridade é errada. Se eu fosse primeiro-ministro também teria de tomar medidas de austeridade, o problema está na dose e no ritmo. No ritmo, porque devíamos ter, pelo menos, mais um ano. E na dose, porque, ao carregarmos na austeridade, a nossa economia ressente-se.
Tenciona promover o diálogo à esquerda?
As esquerdas não estão apenas nos partidos, há muita gente de grande qualidade para além das fronteiras partidárias. Quero abrir o partido a esses contributos e o Laboratório de Ideias e Propostas para Portugal é o primeiro passo nesse sentido. Quanto ao PCP e ao BE, temos aí divergências importantes e que limitam um diálogo mais frutífero.
Como por exemplo?
Os posicionamentos em relação à Europa ou a matérias de segurança e defesa são muito diferentes e isso impede diálogos mais profícuos. E, nos últimos tempos, temos assistido, sobretudo da parte do PCP, a ataques ao PS que não compreendemos. Aqui não nos enganamos no adversário. O nosso adversário é o Governo a as políticas de direita, das quais nos demarcamos.
Portanto, não vai haver diálogo…
Vai haver diálogo. Estou sempre disponível para dialogar com as outras forças políticas. Não iludo é os eleitores, nem perco o meu tempo em diálogos que possam não ser produtivos.
A falta desse diálogo abre caminho ao aparecimento de alguém, fora das forças tradicionais, que polarize o descontentamento?
E polarizar esse descontentamento resolve o quê? O que as pessoas querem, é propostas para resolver os seus problemas.
Com quem é que se aconselha?
Com tanta gente!
Fala com António Guterres?
Agora já não falo há algum tempo.
Com Mário Soares?
Falo bastante com Mário Soares, sim, mas não queria estar aqui a dizer os nomes, senão tenho de os dizer todos, porque falo com muita gente. Escuto muito. Gosto muito de andar pelo País a falar com as pessoas. Nestes cargos, há sempre a tendência para sermos consumidos pelos gabinetes e pelas reuniões.
Qual é a sua figura de referência?
Tenho várias. Mário Soares é obviamente uma referência. Fora do País tenho outras como Olof Palme, Nelson Mandela, António Guterres…
LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA, NA VISÃO Nº 1000