Por Fernando Correia de Oliveira
Segundo se julga, Abraão Zacuto (1452-1515), astrónomo e historiador judeu, foi o responsável pela introdução em Portugal do primeiro almanaque. Inventor de tabelas astronómicas usadas pelos navegadores, escreveu também em hebraico um tratado de astronomia. Em 1496, era publicada em Leiria a primeira edição do famoso Almanach Perpetuum. Nascido em Espanha, Zacuto foi um dos muitos judeus que se viram obrigados a fugir, depois da expulsão decretada em 1492 pelos Reis Católicos, e que conseguiram asilo temporário em Portugal. Poucos anos depois, também a corte de Lisboa decretaria a expulsão maciça dos judeus.
‘Calendário, diário, borda de água, repertório, prognóstico, lunário, sarrabal, efemérides, agenda, folhinha, guia, tesouro, perfeito lavrador, tratado ou dissertação’ são alguns dos nomes usados para identificar aquilo que usualmente classificamos de almanaques.
O Almanaque de Zacuto apresenta um quadro do tempo e tabelas onde se coligem conhecimentos de variadas áreas. Inclui tábuas quadrienais e os especialistas discutem ainda hoje se elas seriam ou não utilizadas nas navegações. Mas, defende o Comandante Estácio dos Reis, “sem o almanaque não era possível resolver, pelo Sol, o problema do cálculo da latitude, que exige o conhecimento da declinação solar no dia da observação.” Não falta, obviamente, um calendário com os santos de cada dia ou uma tábua com a maneira de calcular as festas móveis.