A pandemia veio alterar de forma revolucionária os espaços de escritórios de muitas empresas um pouco por todo o mundo e Portugal não é exceção. Hoje em dia o teletrabalho entrou na vida de muitos, mesmo que a um ritmo parcial ao longo da semana. Sem grandes concentrações de pessoas, aboliram-se secretárias fixas e ganhou-se espaço que se passou a apelidar de ‘colaborativo’. Idealmente zonas de registo informal, confortável, onde colegas e chefias sintam vontade de estar, ganhando-se assim mais produtividade.
E o negócio das remodelações de espaços empresariais, fluiu um pouco por todo o mundo. Mas se na fase inicial da pandemia era mais fácil lidar com a procura e satisfazer a necessidade de adaptação das empresas, atualmente os custos dos materiais e da mão-de obra tornam a tarefa cada vez mais difícil. E Portugal está entre os países do sul da Europa onde os preços por metro quadrado são mais caros.
Um estudo da CW (Cushman&Wakefield) a que a Visão teve acesso – o Fit Out Guide 2022 – dá conta de que a reformulação de espaço de escritório em Lisboa ronda, em média, os 1.000€ o metro quadrado. Em Roma ou Milão o metro quadrado situava-se nos 650€ e em Madrid ou Barcelona o valor era ainda mais baixo – cerca de 540€/m2.
“Em 2021 houve um aumento real dos custos de construção na ordem dos 20% e essa tendência de subida irá certamente manter-se este ano até porque além da pandemia, há também a questão da guerra… Há falta de todo o tipo de matérias-primas – alumínios, madeiras, vidros… E também há falta de mão-de-obra, algo que já existia antes mas que agora se agravou. Tudo isso faz crescer os preços”, explica Matthew Smith, Head of Project & Development Services da Cushman & Wakefield Portugal.
Portugal, em relação aos outros países do Sul, tem um problema de escala, refere ainda o responsável, o que faz crescer ainda mais os preços. “O mercado de fit-out em Portugal é ainda muito pequeno. O poder de compra em Espanha, por exemplo, é muito diferente. O número de fornecedores e players é também bastante diferente. Aliás, muitas das soluções e materiais que são cá aplicados vêm de Espanha”, diz ainda Matthew Smith.
O estudo da CW fala de uma “procura global sem precedentes” no que diz respeito às remodelações de espaços de escritório e que está a ter dificuldade em ser satisfeita pelos fornecedores deste tipo de serviços a preços convencionais.
“Marcenaria, estruturas metálicas, tectos metálicos, divisórias e alguns elementos mecânicos e elétricos, juntamente com equipamentos eletrónicos apresentaram um notável crescimento de preços”, alerta-se no estudo, com consequências no preço final da obra.
Perante este cenário, “as empresas de construção estão a rever os projetos que têm em pipeline”, atualizando os preços tendo em conta a atual conjuntura. “Não há dúvida que o mercado de ‘fit out’ está sob pressão. A questão de difícil resposta é por quanto tempo mais irá manter-se essa pressão”, questiona-se no estudo.
E os aumentos de custos não se verificam apenas nos materiais de construção e mobiliário de escritório. “Uma mudança para espaços de trabalho mais flexíveis requer investimento e uma nova abordagem à tecnologia. As empresas adotaram o Microsoft Teams, Zoom e outras plataformas”, lembra o relatório da CW.

Criar salas de reuniões, de diferentes tamanhos, nunca exigiu tanto a nível tecnológico. A mudança para um espaço de colaboração dinâmica onde as pessoas podem interagir com os colegas e clientes tem vários impactos no concepção de um projeto de adaptação.
“Ao focar em espaços funcionais em vez de mesas estáticas, os layouts de escritório tornam-se mais fluidos mas exigem mudanças. Há uma redução custos devido ao número de mesas atribuídas, mas é necessário investimento para assegurar zonas de trabalho flexíveis suficientes para capacitar a maneira diversificada de trabalhar”, reforça-se no documento, realçando que “o novo normal pode muito bem tomar a forma de um ecossistema total do local de trabalho, aproveitando casa, escritório e terceiros lugares”.
Certo é que dificilmente o escritório, como o conhecíamos, antes da pandemia, voltará a ser igual. “Ganhou-se uma maior preocupação com o bem-estar dos colaboradores que não existia há uns anos de uma forma tão evidente. E um staff feliz é um staff que produz mais trabalho”, diz Mathew Smith, acrescentando que sejam multinacionais ou nacionais, muitas são as empresas que adotaram o regime de 3/2 (três dias no escritório, dois dias em teletrabalho) ou 4/1.
“E esta tendência está para durar. As empresas vão manter o trabalho flexível por muitos trabalhos”, rematou ainda o responsável da CW.