Há dinheiro, e muito, há interesse para investir e um potencial do país que se mantém intacto mas a pandemia está a empurrar os processos de decisão dos investidores imobiliários no que diz respeito ao investimento comercial onde se incluem o retalho, os escritórios e a hotelaria. Ainda assim, e com os olhos postos na vacinação, espera-se que o segundo semestre deste ano permita consolidar um resultado tão bom como o ano transato (cerca de 2,8 mil milhões de euros) em investimento comercial, o terceiro melhor resultado de sempre do setor desde que há registos.
Uma análise da Worx sobre os efeitos da pandemia no mercado do imobiliário comercial conclui que nos setores da hotelaria e retalho não alimentar”, tão fortemente afetados pelos condicionalismos provocados pela Covid-19, se esperam “maiores descontos” nas transações de ativos. Em alta vão estar a “logística, build-to-rent (BTR), retalho alimentar e setores relacionados com a saúde”, diz a Worx no seu WMarket Review, bem como todas as questões da sustentabilidade e preocupações ambientais, sociais e de governança “que serão incorporadas cada vez mais nas decisões dos investidores”.
De acordo com Pedro Rutkowski, CEO da Worx, “num ambiente em que as taxas de juro registam níveis historicamente baixos, o mercado imobiliário continuará a ser visto como um excelente ativo de refúgio, sendo esperado que o volume de investimento em imobiliário comercial se fixe em níveis semelhantes a 2020”, acrescentando que a retoma começará a ser sentida no final de 2021 e princípios de 2022.
Seguem algumas das previsões da Worx para os vários segmentos do imobiliário comercial:
Escritórios
– O mercado de ocupação de escritórios desempenhará uma performance em linha com o ano passado, sendo que a retoma da atividade dar-se-á sobretudo na segunda metade de 2021
– Estima-se que a renda prime manter-se-á estável durante o próximo ano
– Uma maior oferta de espaços usados originará um aumento de incentivos nos contratos de arrendamento
– A nova oferta procurará diferenciar-se com os demais certificados ambientais
– A pandemia acelera e deixa marcas de mudanças significativas, como o hot desking (local no escritório que pode ser usado por qualquer trabalhador), o teletrabalho e a transformação digital
– No longo prazo, estima-se um equilíbrio entre o trabalho remoto e presencial, reconhecendo a necessidade de um espaço colaborativo para desenvolver a cultura organizacional da empresa
– A saúde e bem-estar dos colaboradores será a principal prioridade
Retalho
– Os retail parks e supermercados serão a preferência dos investidores durante 2021, dada a sua prova de resiliência durante o último ano
– A pandemia continuará a pressionar o crescimento do e-commerce (o comércio online), apesar de ainda haver uma grande discrepância face a outros países da União Europeia
– No geral, os proprietários mostram-se flexíveis a negociar, oferecendo, como incentivos, períodos de carência, moratórias e contribuições de fit-out (adaptação do escritório à imagem corporativa da empresa)
– Os proprietários dos centros comerciais continuarão debruçados sobre o regime de rendimento variável, enquanto assistem a uma recuperação gradual do tráfego nas lojas e a um “consumo de vingança”
– Procurar-se-ão outras alternativas, como o live commerce (transmissões de vídeos para apresentar produtos) e a venda de produtos como um serviço
– A pandemia vai acelerar a transformação de muitos centros comerciais em locais de vivências e experiências, que serão um ponto de socialização, com espaços de lazer e experiências diferenciadoras de compra
Logística
– A pandemia está a acelerar a procura por ativos no setor logístico dada a resiliência do mesmo desde que a Covid-19 se globalizou
– A localização continuará a ser o principal requisito da procura, nomeadamente perto dos grandes centros urbanos
– Inquilinos que visam investir num imóvel com tecnologia mais avançada procurarão contratos de maior duração, de forma a tirar o máximo proveito do seu investimento; por outro lado, armazéns logísticos destinados ao lastmile (a última etapa na entrega da encomenda) procurarão uma maior flexibilidade contratual
– O crescimento do e-commerce originará uma maior necessidade de espaços de grande dimensão, com projetos desenvolvidos à medida do cliente
Hotelaria
– A recuperação do Turismo em Portugal continuará dependente da procura externa, que será acelerada por via da vacinação
– Transição de alguns estabelecimentos hoteleiros para ‘mixed-use’
– Nómadas digitais como potencial segmento alvo para algumas unidades hoteleiras
– Esperam-se maiores compromissos com os aspetos relacionados com a higiene e segurança, tirando proveito dos avanços tecnológicos
– A recuperação deste setor será decisiva para a retoma da economia nacional, perspetivando-se, no geral, um crescimento mais acentuado a partir de 2022, com diferentes velocidades conforme a região do país
– As moratórias vão adiar as vendas forçadas até ao final do ano, mercado alvo e de interesse do perfil de investidor oportunístico