Com o rápido crescimento da população mundial esperado para as próximas décadas, estima-se uma necessidade de construir mais de 10 000 edifícios por dia até 2050, incluindo as respetivas infraestruturas. Estima-se também que o emprego na construção, atualmente 7% do total mundial, cresça além de 10% até 2030 e que, até ao mesmo ano, se concretize a reforma de pelo menos 35% da atual força laboral. Em acréscimo, a produtividade no setor da construção, que representa 13% do PIB mundial, cresceu a uma taxa média anual de apenas 1% nos últimos 20 anos, comparativamente a 3% a nivel global.
Neste sentido, prevê-se uma escassez de recursos a médio prazo, que tendencialmente incrementará custos de construção e reduzirá a eficiência e rentabilidade do setor, que já se depara com várias questões a estes níveis, além de outros aspetos relacionados com a segurança no trabalho e com a atração, desenvolvimento e retenção de talento.
Juntando a estes fatores um potencial de automação da indústria avaliado em cerca de 50%, surge então o conceito de Industrialização da Construção (IC).
A IC é um conceito que recorre a tecnologias inovadoras para ligar a conceção à produção, através de processos “design-to-make”, requerendo, portanto, a integração de todas as fases do ciclo de vida do ativo construído (integração vertical) e de todos os membros das equipas envolvidas (integração horizontal), assim como a gestão do conhecimento entre ativos (integração longitudinal), sob risco da sua implementação não ser bem sucedida.
As megatendências da Industrialização da Construção, enquadradas na chamada quarta revolução industrial ou indústria 4.0 (neste caso, construção 4.0), são as seguintes: construção offsite, consistindo na pré-fabricação de estruturas/módulos que são posteriormente transportados e montados em obra; robótica e automação, incluindo tecnologias como impressão 3D, laser scanner e drones, para o levantamento de informação ou implementação no local; big data, inteligência artificial e machine learning, permitindo realizar análises preditivas e tomar decisões mais informadas no âmbito da conceção, construção e operação, por meio de algoritmos inteligentes; internet of things (IoT), possibilitando, através de um conjunto de dispositivos/sensores conectados entre si, controlar remotamente e automatizar a gestão de operações, estaleiros, equipamentos, aprovisionamentos, estruturas, etc.
Estas tendências têm o potencial para melhorar o planeamento e a gestão do âmbito, custos, prazos, ambiente e segurança no ciclo de vida dos ativos, criando assim uma indústria mais resiliente e sustentável, enquanto que desafios como a escassez de mão de obra qualificada e a crescente necessidade de edifícios e infraestruturas são também mais facilmente respondidos.
A IC é assim uma evolução necessária, estimulada agora com o impulso da pandemia para a transformação digital, mas que não acontece sem significativas adaptações de processo e de mentalidade, num setor que se caracteriza como sendo tradicionalista e relativamente resistente à mudança.
Uma condição fundamental para o sucesso da implementação da IC é prepararmo-nos para o futuro do trabalho. O impacto das novas gerações de engenheiros e gestores nesta nova forma de colaborar é um fator crítico.
Assim, terá de ser mobilizado um esforço conjunto entre universidades e empresas, congregando conhecimento e experiência, no sentido de adaptar os seus modelos de ensino e de negócio à evolução do ambiente construído, que precisa de novas competências, para funções novas e existentes, de caráter mais tecnológico – casos como o Reino Unido e os EUA têm vindo a dar passos significativos neste sentido. Este movimento irá também permitir atrair mais talento para um setor relativamente pouco cativante e competitivo, por motivos históricos, assim como aumentar a diversidade de perfis e género.
As empresas de arquitetura, engenharia, construção e operação, para beneficiarem das vantagens da IC e garantirem a sua competitividade, deverão também cooperar entre si no sentido de adaptar as suas operações, processos e procedimentos ao progresso tecnológico da construção.
O governo deverá igualmente assumir um papel ativo, criando sistemas de incentivo, estabelecendo normas e regulação, e definindo ambientes colaborativos, para facilitar a implementação da IC na indústria. Isto pode incluir, por exemplo, o financiamento de empresas e centros de investigação; a definição de requisitos para a transformação digital nas organizações e no desenvolvimento de empreendimentos; e alterações legislativas no âmbito da consulta e contratação de projetos e obras.
O triângulo universidades-empresas-governo deve assim investir não só em tecnologia, mas sobretudo em pessoas, processos e normalização, promovendo um ecosistema colaborativo para todas as partes interessadas, de modo a sustentar aquilo que é o futuro da construção, que passa inevitavelmente pela sua industrialização.