Dormir dentro de uma batata gigante, de um ovni ou de uma casa-bota soa a brincadeira de crianças? Pode parecer, mas o negócio é bem real. Ter um espaço diferente disponível para arrendar a turistas pode fazer a diferença em tempos de pandemia, quando as escolhas dos locais a visitar e as respetivas acomodações passaram a ter uma importância ainda maior.
“Não existem dados concretos sobre quantos anúncios de alojamentos peculiares existem na plataforma Airbnb uma vez que são os anfitriões que os categorizam como tal, mas sabe-se que existem mais de 30 mil micro casas, 5 mil castelos e 3 mil casas em árvores anunciadas através do portal e localizadas em várias partes do mundo”, diz à VISÃO Imobiliário fonte oficial da Airbnb, acrescentando que há um interesse crescente em estadias que são únicas, devido à sua decoração, localização ou privacidade. “A COVID transformou a razão para fazer escapadinhas: a prioridade não é tanto o facto de viajar e mudar-se para um novo local, mas encontrar um alojamento especial para usufruir da companhia da família e amigos num ambiente seguro”, reforçou ainda o responsável.
Uma das mais procuradas está localizada em Nelson, uma cidade na costa leste da Tasman Bay, na Nova Zelândia, e é uma microcasa em forma de bota que mais parece fazer parte de uma atração da Disneylândia. Integrada na herdade de quase três hectares do casal Judy e Steve, “The Boot” faz lembrar um cenário de um filme de contos de fadas, dizem os hóspedes, através dos comentários publicados. A pequena casa equipada com uma cama queen size, lareira para os dias frios que estão a chegar e seu próprio pátio privativo pode ser reservada por 150 euros ao dia.
Peculiar é também a Big Idaho Potato, localizada numa propriedade de 160 hectares em Idaho, uma espécie de capital da batata, nos Estados Unidos. A estrutura de seis toneladas ‘circulou’ durante sete anos por todo o país nas campanhas de marketing da Idaho Potato Commission, a entidade representativa dos produtores da região. Recentemente, Kristie Wolfe, uma ex-porta-voz da comissão, resolveu reciclar a batata gigante e transformá-la numa minicasa com todas as comodidades de hotel, com preços a começar nos 212 euros a noite.
Nu outro ponto do mundo, em Redberth, no Reino Unido, os hóspedes do UFO (OVNI, em inglês) recorrem a trocadilhos óbvios nos comentários deixados na plataforma Airbnb, dizendo que a experiência de aqui pernoitar “é algo de outro mundo”. Wolf, o proprietário, não se poupou a esforços para criar o ambiente perfeito, e na “nave espacial” equipada com uma cama de casal, duas de solteiro e cozinha não faltam também lasers, máquina de fumos, um monitor para jogos espaciais dos anos 80 e até uma escotilha no tecto controlada remotamente para mais facilmente se ver as estrelas.
Cientes do interesse dos turistas neste tipo de propriedades peculiares, a Airbnb lançou em março deste ano, pouco antes da pandemia, um fundo de um milhão de dólares (875 mil euros) para descobrir e ajudar a financiar os espaços habitáveis menos convencionais e mais incomuns do planeta.
“Inspirado no espírito empreendedor dos três cofundadores da empresa” e “em busca das ideias de casas mais loucas do mundo”, o fundo pretendia apoiar projetos com base em critérios de criatividade, viabilidade, sustentabilidade e bem-estar social, referia, então, a empresa.
Uma iniciativa que foi, entretanto, deixada em suspenso devido ao surto de Covid-19 que está a afetar de uma forma global o turismo, que se espera retomar em 2021.
A ganhar e sem mais concorrência ficam as habitações singulares que já fazem parte dos registos da plataforma. E muitas vezes não tanto pela exuberância do espaço mas pela simplicidade. “Globalmente, os alojamentos classificados como ‘refúgios para pastor’ ou ‘cabanas’ foram os que mais cresceram nas listas de desejos dos viajantes, duplicando em comparação com o ano passado. Outros alojamentos mostraram um crescimento semelhante: celeiros (mais de 60%), cabanas (mais de 40%), casas de campo (mais de 30%)”, adiantou ainda à Visão o gabinete de comunicação da Airbnb.
Dos 20 alojamentos mais desejados internacionalmente, cinco são casas na árvore (uma das quais é esta cabana Spa Zen, em Raray, França, na foto acima) , três são minicasas e duas são domes (casas com cúpulas geodésicas)”, com os abrigos, cabanas, casas de campo e grutas também aqui incluídos.
Não existem dados específicos relativos a Portugal para a procura destas acomodações pouco convencionais, mas “sabe-se que no País se encontra um dos celeiros mais pesquisados nas wish lists pelos utilizadores da plataforma, em 2019, entre outros alojamentos únicos, tais como apartamento construído com materiais reciclados ou belo dome”, rematou ainda a mesma fonte.