Hein de Haas, 55 anos, é um dos grandes especialistas mundiais sobre as migrações. Sociólogo e geógrafo holandês, professor na Universidade de Amesterdão, falou à VISÃO a propósito do lançamento do seu novo livro, Como Funciona Realmente a Migração (Temas e Debates). Uma entrevista muito esclarecedora sobre um assunto que é frequentemente desvirtuado, ao sabor das ideologias políticas. “O meu livro argumenta que não é sério discutir a imigração em termos de ser pró ou anti, tal como ninguém pergunta se somos a favor ou contra a economia. Isso mostra como é estúpido enquadrar o tema assim e não devíamos permitir que os políticos o fizessem”, afirma com a convicção de quem estuda profundamente o assunto, enquadrando-o numa perspetiva histórica. Longe dos “bitaites” dos “treinadores de bancada”.
Quais são os grandes mitos que se propagam sobre a imigração nestes dias?
O primeiro é que vivemos tempos de imigração massiva como nunca houve na História e que isto está a ficar descontrolado. Não é verdade. Se olharmos para o último século, tivemos muitos europeus a ir para a América, com níveis de imigração muito mais altos do que os que existem atualmente. O que está a acontecer é que o destino da imigração mudou – no passado, a Europa era um continente de origem dos imigrantes, que iam não só para a América como para as colónias, e isso mudou nos últimos 50 anos, a Europa tornou-se um continente de destino. Portugal é um bom exemplo, pois transformou-se num país de emigrantes para passar a receber imigrantes. Ou seja, globalmente, os níveis não subiram, apenas 3% da população mundial é migrante e esse número tem-se mantido estável no último século.