O nome Smart Surgery (ou cirurgia inteligente, em tradução livre) pode ser pomposo, mas é inegável que a robótica tem estado a transformar as operações cirúrgicas nos últimos 15 anos. Dorry Segev, professor e cirurgião da Universidade John Hopkins, refere que as mudanças mais visíveis tem sido o facto das intervenções serem cada vez menos invasivas e de os robôs controlados por consolas permitirem movimentos mais fluídos – por exemplo, reduzem tremores da mão do cirurgião quando estão a coser com uma linha de uma espessura do tamanho de um fio de cabelo.
Estes são cenários que já se transformaram em realidade, mas o que podemos esperar para o futuro quando um terço das cirurgias nos Estados Unidos já são feitas com recurso a robôs? Dorry Segev fala em movimentos ainda mais fluídos com o recurso a Inteligência Artificial e salienta que o feedback háptico será uma funcionalidade muito útil, tal como a utilização de uma Realidade Aumentada conciliada com IA que seja capaz de perceber o contexto das conversas que decorrem na sala de operações e fornecer informação adaptada ao contexto. Exemplos práticos são a informação visual sobre dados do paciente ou vídeos sobre determinados procedimentos cirúrgicos em tempo real.
Annie Rogaski, COO da Avegant, reconhece que a Realidade Aumentada vai melhorar num futuro próximo e disponibilizar imagens de muito elevada resolução e refere o sucesso já obtido com a Realidade Virtual no treino de cirurgias em ambientes simulados. O controlo por voz será outro dos aspetos que irá inovar a cirurgia, embora ainda seja preciso melhorar os comandos para evitar erros que podem ser prejudiciais num cenário onde falhas não podem ser toleradas.
Perspetivando o futuro, Dorry Segev não acredita que seja possível fazer uma cirurgia remotamente nos próximos 10 anos, mas destaca que a tecnologia já permite uma comunicação tão eficaz que é possível oferecer conselhos em tempo real mesmo quando um médico está nos Estados Unidos e outro no Nepal. Contudo, Annie Rogaski alerta que um potencial risco é haver interferência nessa comunicação para se obter um final infeliz. «Mas eu tento não ver muito o Black Mirror, porque me dá pesadelos», acrescenta com um sorriso nos lábios.