António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, escreveu, a 11 de fevereiro de 2019, por ocasião da celebração do Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência: “O conhecimento na área da Ciência, da Tecnologia, da Engenharia e das Matemáticas impulsiona a inovação e é fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. As mulheres e as raparigas são fundamentais em todos estes domínios. No entanto, lamentavelmente, a sua participação nestas áreas continua a ser insuficiente. Os estereótipos de género, a falta de modelos visíveis e as políticas e ambientes desmotivantes e, até hostis, podem levá-las a não optar por cursos nestas áreas.
O mundo não pode dar-se ao luxo de desperdiçar o contributo de metade da população.” De facto, de acordo com dados publicados pela UNESCO no relatório “Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM)”, apenas 28% do total de investigadores de todo o mundo são mulheres, e, desde Marie Curie, em 1903, apenas 17 mulheres foram galardoadas com o prémio Nobel da Física, em comparação com 572 homens. Obviamente, quando falamos de prémios e reconhecimento, há uma grande parte de ocultamento e injustiças – temos os casos de Rosalind Franklin, Ida Tacke ou Lise Meitner, citando apenas alguns nomes de uma lista imensa – contra os quais as mulheres sempre tiveram de lutar em todas as áreas.
Mas a vocação é algo muito diferente, e aqui, como escreve Irina Bokova, diretora-general da UNESCO, todos temos algo a dizer: “Temos de ultrapassar os obstáculos que afastam as estudantes das STEM. Temos de despertar o seu interesse nos primeiros anos, lutar contra os estereótipos, capacitar os professores para que incentivem as raparigas a seguir carreiras nas STEM, desenvolver planos de estudo que tenham em conta o género e orientar as raparigas e as jovens de forma a mudar a sua mentalidade.”
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Em Portugal, esse papel de referência cabe à ex-ministra da Saúde, Leonor Beleza que, numa época complicada (anos 80), e num ambiente predominantemente masculino, defendeu os direitos das mulheres: “Acabávamos de sair de uma revolução, e isso ajudou a fazer com que as mudanças fossem mais compactas e rápidas do que noutros locais.” É possível que seja essa a razão, mas a verdade é que Portugal se destaca em toda a OCDE como exemplo, com 57% das estudantes portuguesas a optarem por cursos científicos, contra os 39% da média.
Um dado significativo mas que, no entanto, não deveria surpreender, uma vez que, no contexto geral do país, são também as mulheres quem alcança melhores classificações académicas, muito acima dos colegas do sexo masculino.
Apesar do otimismo que estes dados podem suscitar, Mónica Bettencourt-Dias, diretora do prestigiado Instituto Gulbenkian de Ciência, sabe que há ainda muito para fazer: “Há coisas que ainda me surpreendem. Por exemplo, quando uma mulher quer liderar um grupo mas tem um filho pequeno, em muitas partes do mundo, é normal dizerem-lhe que não pode fazê-lo. Isto é algo contra o qual temos de lutar.” Felizmente, não é o caso de Portugal, onde, segundo Bettencourt-Dias, não existem estes entraves para quem quer trabalhar e, ao mesmo tempo, ter uma família, um exemplo que deveria ser seguido, para que se cumpram as palavras de António Guterres: “Vamos fazer com que cada rapariga, em qualquer parte do mundo, tenha a oportunidade de alcançar os seus sonhos, crescer com respeito pelas suas potencialidades e contribuir para um futuro sustentável para todos”.
Texto por: José L. Álvarez Cedena