É certo que perder o emprego aos 50 anos é uma “pedra no sapato”. Na hora de ponderar uma mudança de carreira, num momento de estagnação ou de desemprego, a idade é um dos principais fatores a pesar na decisão. Parece haver, no mercado, um estigma associado à idade, assumindo que pessoas com mais de 30 anos de experiência já não estão aptas para trabalhar ou para estudar e voltar a aprender. De facto, a preocupação é real, pois à medida que a idade aumenta, também a taxa de desemprego cresce. Infelizmente, esta tendência não reflete a vontade ou o profissionalismo das pessoas nesta faixa etária.
Segundo um estudo da consultora PwC, publicado em 2017, a valorização desta faixa etária é essencial, pois uma taxa de emprego elevada, como a que se verifica na Suécia, país onde mais de 75% da população dos 55 aos 64 anos tem emprego, representaria um aumento do PIB português. Contudo, na data deste estudo, em Portugal, havia pouco mais de 50% de empregados, no mesmo intervalo de idades. Já em 2020, de acordo com o PORDATA, a taxa de desemprego de pessoas entre os 55 e os 64 anos era de 5,9%.
No último ano, no qual fomos atingidos pela avalanche da Covid-19, assistimos a uma crise e ao aumento do desemprego, um pouco por toda a parte. Instabilidade foi a palavra-chave que assolou muitas casas e empresas e não se contam pelos dedos das mãos as pessoas que ficaram sem trabalho e que começaram a questionar se deviam fazer mudanças de carreira e para que áreas.
Sabe-se que em 2020 os níveis de empregabilidade de licenciados (com término de licenciatura em 2018/2019) atingiram máximos históricos e que, de acordo com os dados do portal Infocursos, existiam 68 cursos com taxa de desemprego de 0%, sendo um deles Engenharia Informática. No entanto, para obter tal diploma, são precisos no mínimo três anos, situação incomportável para algumas pessoas, sobretudo em idade mais avançada. É por esta razão que se devem olhar para alternativas, como é o caso dos bootcamps –cursos práticos e de curta duração, que permitem que uma pessoa com qualquer background, consiga aprender e responder às necessidades atuais do mercado de trabalho.
Tal como acontece com as moedas, também esta pandemia tem um reverso, no qual é possível ver o crescimento de certos setores, nomeadamente, o tecnológico. A transformação digital das empresas foi acelerada a um ritmo alucinante, o teletrabalho emergiu, o uso de redes sociais cresceu e o recurso ao e-commerce disparou. Se outrora, na área tech, já havia uma grande lacuna entre a procura por profissionais do setor, que preenchessem vagas, e a oferta, agora então assistimos a um gap ainda maior por completar. É neste contexto que vemos a oportunidade de juntar dois mundos que podem responder às necessidades de cada um.
Os bootcamps não fazem distinções de idades ou de passados profissionais, sendo, por isso, uma forma de reintegrar pessoas mais velhas no mercado de trabalho. Nesta vertente, existem estudantes com idades a partir dos 30 até aos 50 anos e a perfeita noção de que as turmas não se fazem só de pessoas jovens à procura do seu primeiro emprego. A idade é só um número e ainda mais nesta área, onde pessoas de meia-idade conseguem emprego tal como um jovem na casa dos 20 anos.
Escolas técnicas proporcionam outras mais-valias como a avaliação do mercado, o ensino de ferramentas para uma melhor performance nas entrevistas de empego e contactos próximos com empresas do setor. Receia-se que a opção, ainda hoje escolhida com frequência, por cursos executivos e/ou administrativos e muito dispendiosos, não conseguiria surtir o mesmo efeito. A importância da valorização das soft skills tem de ser tida em consideração, bem como as competências de cada um, uma vez que isso, aliado à requalificação, pode ser o segredo para um excelente profissional.
O país e o mundo precisam de olhar para o paradigma atual e perceber que os setores sofreram mudanças e adaptações e que há áreas nas quais se deve apostar, como é o caso da tecnologia. O setor traduz segurança e solidez, pois de programação à cibersegurança – ainda mais relevante após esta transição para o digital –, há muitos postos de trabalho alternativos por assegurar. Além disto, esta é uma área que não olha a idades, basta que haja vontade de aprender, pois nunca é tarde para arriscar.