Já passou quase um ano desde o primeiro confinamento que levou ao fecho das escolas e à consequente adoção do ensino à distância. Um período que incluiu as férias grandes do verão e o início de um novo ano letivo. Esta semana regressam as aulas à distância, desta vez até antecedidas por duas semanas de fecho completo das escolas. Muito tempo para o sistema de ensino fazer o trabalho de casa e preparar-se para o novo período de aulas à distância. Se, em março de 2020, todos aceitavam a confusão natural gerada pela surpresa, agora teríamos razões para acreditar que tudo seria bem diferente. Mas não. Nem me refiro as promessas não cumpridas da distribuição dos computadores e do acesso à Internet. Refiro-me a coisas mais básicas, mas que, por nem dependerem de investimento nem de fornecedores externos, demonstram bem a incapacidade de planeamento de quem nos governa.
Como é que, depois de tudo isto, ainda temos muitas escolas em que cada professor usa a plataforma que bem entender? E vou dar um exemplo familiar: uma criança que, nas primeiras três aulas remotas, usou três plataformas diferentes: Webex, Teams e Zoom. Felizmente, a irmã da criança referida teve uma experiência melhor: apenas uma plataforma no primeiro dia de aulas. Mas esteve longe de ser um bom exemplo, já que teve de recorrer a um e-mail com links para cada aula. O que, naturalmente, gerou problemas e muitos atrasos para começar as aulas.
Como é que, com tantos milhões investidos e tantas estruturas técnicas, não há uma uniformização das plataformas, pelo menos para cada escola ou agrupamento? Como é que não se recorre a funções básicas disponibilizadas pelas plataformas para criar calendários das aulas de modo a que os alunos e professores só tenham de clicar em “participar” para entrar na aula, sem mails e sem links estranhos que geram confusão aos menos entendidos? Parece que se fez o máximo para complicar quando tudo deveria ter sido feito para tornar o acesso fácil. Alunos e professores continuam a perder muito tempo com questões técnicas quando deviam, especialmente pelas circunstâncias conhecidas, concentrar-se nos processos educativos.
Os bons exemplos – e também os há – provam que é possível tornar tudo mais simples, fácil e produtivo. Em conversa com amigos e colegas soube de escolas em que todos os professores usam a mesma plataforma, incluindo um bom exemplo em que as aulas foram agendadas no Teams. Ora, escolher a mesma plataforma tem vantagens óbvias em termos de experiência de utilização: é muito mais fácil aprender a usar um software do que três ou quatro e permite partilhar experiências (utilizadores que ajudam outros).
A grande variabilidade de escola para escola na forma como se geriu e gere a utilização das plataformas tecnológicas demonstra que houve pouca capacidade de liderança. Ou não se fez o trabalho de gestão básico ou não se comunicou corretamente essa informação às escolas. Houve tempo para se decidir, recomendar e formar. Muito.