A Inteligência Artificial (IA) tem sido crítica na atividade do Facebook – desde os algoritmos de recomendação que aumentam o tempo despendido na plataforma às ferramentas automáticas de moderação de conteúdos – e vai assumir um papel ainda mais fulcral no futuro da empresa. É que o metaverso, o mundo virtual que a tecnológica ambiciona construir, dificilmente se concretizará sem as ferramentas certas de IA.
“A Inteligência Artificial é um caminho essencial para o futuro do metaverso, para desbloquear novas experiências para as pessoas”, sublinhou Antoine Bordes, diretor-geral do centro de investigação de IA da Meta, empresa dona do Facebook, na Europa, num evento com a imprensa no qual a Exame Informática participou.
Neste sentido, a tecnológica anunciou três grandes projetos na área da IA: está a criar um tradutor universal de voz, que permitirá que as pessoas comuniquem entre si, em tempo real, mesmo que não tenham conhecimentos do idioma da outra pessoa com a qual estão a falar; fez avanços no desenvolvimento de algoritmos que aprendem sem instruções de humanos (self-supervised learning); e está também a criar sistemas de IA conversacionais com maior capacidade de adaptação ao contexto da conversa e circunstâncias, inclusive na criação de conteúdos sintéticos.
“O self-supervised learning é não dizer à máquina o que existe numa imagem, o algoritmo tem de descobrir”, explicou o executivo da Meta. Nos testes que tem feito, o Facebook remove uma parte de uma imagem (de um gato, por exemplo) e o algoritmo tem de adivinhar o que está ali em falta (como uma pata, por exemplo). “Se fizeres isso repetidamente, a ambição é que o algoritmo começa a perceber como é que o mundo está organizado”, acrescentou. Ou seja, mesmo sem que lhe digam que aquele é um gato e que tem quatro patas, o algoritmo é capaz de perceber sozinho o que é um gato, o que são patas e de que forma os dois se relacionam.
Por norma, os algoritmos são treinados de forma supervisionada, ou seja, através da atribuição de etiquetas (isto é um gato e isto é uma pata, por exemplo). Mas é através de uma abordagem de ‘auto supervisão’ que o Facebook tem conseguido acelerar os resultados de alguns dos seus projetos de investigação – como o tradutor universal, “no qual todos poderão falar com todos”, ambiciona Antoine Bordes. “Estamos a falar de meses, talvez alguns anos para conseguir isso”, sublinhou na conferência de imprensa.
O objetivo é claro – se a Meta ambiciona juntar milhares de pessoas dentro do mesmo mundo virtual, tem de encontrar uma forma simples e intuitiva, que neste caso é a fala, para as pessoas comunicarem umas com as outras.
“Não pensamos evoluir tão depressa quanto estamos [a fazer]. Não estávamos a pensar em traduzir em centenas de linguagens, mas agora estamos a falar desta escala”, diz Antoine Bordes. Isto porque a empresa está a criar um sistema de IA que é capaz de aprender a fazer traduções inclusive de idiomas dos quais tem conjuntos de dados mais pequenos – um outro projeto conhecido como No Language Left Behind (Nenhum idioma deixado para trás, em tradução livre).
O ‘segredo’ está na capacidade do software em converter frases de diferentes idiomas numa única representação transversal a várias línguas. Depois, detetando semelhanças em grande escala de representações com significados parecidos, consegue inferir o sentido da tradução, mesmo sem um grande volume de dados.
Mas aquele que promete ser um dos projetos bandeira de Inteligência Artificial da Meta e do metaverso que está a construir é o Builder Bot. Ainda é apenas uma demonstração tecnológica e não um produto em vias de ser lançado, mas na prática este é um sistema capaz de converter comandos de voz e transformá-los em conteúdos tridimensionais. Ou seja, o utilizador pode dizer “praia” e o sistema vai criar uma cenário 3D de uma praia.
A ideia é que além de dar vida digital às intenções dos utilizadores, o Builder Bot possa ir mais longe. Durante a explicação, Antoine Bordes deu o exemplo de uma árvore azul. O algoritmo sabe, a partir de uma biblioteca de imagens, como gerar uma árvore, e sabe a partir de outra biblioteca, neste caso de cores, o que é o azul. “[O algoritmo] percebe que azul é uma cor e que queres um elemento [desta cor]”, detalha. “Podemos criar conceitos complexos, a ideia é que o Builder Bot possa fazer este tipo de coisas”, disse ainda o executivo.
Na prática, o Builder Bot funciona como outras ferramentas de Inteligência Artificial para criação de conteúdos sintéticos a partir de instruções específicas – como o GauGAN 2 da Nvidia –, mas no caso da Meta cria especificamente conteúdos 3D em ambiente de realidade virtual. Tudo em nome do metaverso.