As expetativas eram elevadas e a Huawei correspondeu a elas ao confirmar na HDC2019 (Huawei Developer Conference, que decorre Dongguan) muitos dos rumores que circulavam. Sim, a empresa anunciou oficialmente um sistema operativo que tem o objetivo de ser utilizado em múltiplos dispositivos diferentes – chama-se HarmonyOS e Richard Yu, CEO da área de consumo do fabricante, chegou a afirmar que podem aplicá-lo quando quiserem a smartphones. Apesar disso, o executivo referiu que a prioridade da Huawei é manter o Android nos seus telemóveis, alertando que o HarmonyOS pode vir a ser usado em breve se as condicionantes internacionais a isso obrigarem e que o desempenho até é melhor que o registado pelo sistema operativo da Google. Para já, numa espécie de teste, o HarmonyOS marcará presença num dispositivo Honor que será anunciado este sábado.
Apesar da obrigatória referência aos smartphones devido às limitações provocadas pela guerra comercial em curso entre Estados Unidos e China, o objetivo global da Huawei com o HarmonyOS é bem mais amplo e ambicioso: criar um sistema operativo open source orientado para o futuro que possa ser utilizado em smartphones, PCs, tablets, smartwatches, televisões, automóveis, etc. Ou seja, ter uma única solução para aquilo que a Google endereça com Chrome OS, Android, Wear OS e Android Things ou a Apple com macOS, iOS, watchOS, tvOS e iPadOS.
Na base do HarmonyOS está um microkernel capaz de ser distribuído para todos os cenários, assegura a Huawei. Uma das razões para esta capacidade prende-se com a adaptação flexível que é capaz de fazer a nível de consumo de memória RAM, ou seja, é capaz de gerir de forma inteligente tanto as exigências de GBs dos smartphones e PCs como os de MBs de smartphones e automóveis e até os de KBs de dispositivos de Internet das Coisas (IoT). A arquitetura distribuída e protocolo simplificado de virtual bus pretendem assegurar uma experiência fluída em múltiplos dispositivos ao fornecer baixa latência, alta velocidade na transmissão de dados e elevada fiabilidade.
A segurança é outro aspeto em foco no HarmonyOS, que recorre a métodos de verificação formal no kernel TEE (Trusted Execution Environment), uma abordagem matemática que só costuma ser aplicada em indústrias críticas, como, por exemplo, a aeroespacial. Além disso, os serviços externos não têm acesso ilegal root e ficam fora do microkernel para garantir maior segurança do sistema.
Outro dos grandes objetivos da Huawei é facilitar a vida aos programadores. Assim, estes profissionais de software passam a ter a possibilidade de desenvolver uma aplicação uma única vez e depois recorrer a IDE para replicá-la noutros dispositivos, em vez de ter de conceber uma app diferente para cada tipo de equipamento. Refira-se também que o compilador Huawei ARK suporta múltiplas linguagens – C/C++, Java, JS, Kotlin, etc.
O kernel 1.0 do Harmony começou a ser criado em 2017 e o roadmap da Huawei é ambicioso, já que no próximo ano conta ter disponível o HarmonyOS 2.0 para ser aplicado em PCs, smartwatches e pulseiras de exercício físico. Em 2021 deverá chegar o HarmonyOS 3.0 para headsets e colunas, com a adoção para óculos de Realidade Virtual prometida para 2022.