A Inteligência Artificial está a ser usada em quase todos os quadrantes da vida e, na China, também para evocar os mortos. Numa altura em que milhões de chineses irão visitar as sepulturas dos seus entes queridos, para prestar as suas homenagens e manter os túmulos, surgem vários serviços online a sugerir a criação de avatares digitais dos entes falecidos, com os preços a começar nos dois euros e meio.
A tendência tem vindo a ganhar força, à medida que as empresas chinesas de IA continuam a investir e a aprimorar as suas ofertas. O mercado para ‘humanos digitais’ valia 12 mil milhões de yuans em 2022 e a expetativa é que quadriplique no próximo ano. O The Guardian explica que as tecnológicas estão a investir neste segmento como forma de satisfazer a procura dos muitos livestreamers que tentam criar clones digitais para continuar a anunciar produtos 24 horas por dia, sete dias por semana.
Um exemplo foi dado pela SenseTime, uma das líderes deste segmento, no mês passado quando um discurso do fundador Tang Xiao’ou durante a reunião anual começou por “Olá a todos, encontramo-nos de novo. O último ano foi difícil para todos, mas acredito que as coisas difíceis vão passar eventualmente”. A ironia é que 2023 foi particularmente difícil para Tang que faleceu no dia 15 de dezembro. O discurso foi dado por um destes clones digitais, criado com recurso a um grande modelo de linguagem e programado com clips de áudios e vídeos de Tang.
Um dos programadores destas empresas escreveu na Weibo que a sua empresa já ajudou mais de 600 famílias a ‘reunir-se’ com os entes falecidos este ano.
A tendência, no entanto, não é bem vista por todos. Os fãs do cantor Qiao Renliang, que se suicidou em 2016, criaram novo conteúdo onde este figura, com base em vídeos e sons antigos e num deles podemos mesmo ouvi-lo a dizer “Na verdade, nunca parti”. A ‘ressurreição’ desagradou bastante aos pais do cantor e o pai explicou que foram reavivadas “cicatrizes antigas” e que os conteúdos foram criados sem o consentimento da família.