Há vários trabalhos que recomendam o uso de produtos com canabidiol (CBD) para o tratamento e alívio da dor crónica. No entanto, uma meta-análise publicada agora, que considerou vários destes estudos, revela que não há evidência científica que suporte estas conclusões e leva os seus autores a recomendar cautela quando se compararem os alegados benefícios dos produtos.
Chris Eccleston, cientista especializado no estudo da dor na Universidade de Bath, explica que “a dor crónica não tratada é um sério perigo à qualidade de vida e muitas pessoas vivem com esta dor todos os dias. A dor justifica um investimento na ciência séria para se encontrarem soluções sérias”, cita o ScienceAlert. Recorde-se que os alegados benefícios no tratamento para a dor crónica são um dos grandes marcadores promocionais para os géis, vapes, cremes, gomas, bebidas e outros produtos com CBD, embora a sua eficácia ainda não tenha sido provada cientificamente de forma definitiva.
Já em 2021, a IASP (International Association for the Study of Pain) revelara que, apesar de haver ensaios em animais que sugeriam que os produtos com CBD ativavam mecanismos de alívio da dor, faltavam ainda os estudos em humanos: “Isto não é um fechar de porta definitivo no tema, mas sim um apelo a que haja investigação mais rigorosa e robusta para garantir a segurança dos pacientes e do público, através dos padrões regulatórios e normas”.
A equipa de Eccleston avaliou agora 16 testes clínicos conduzidos entre 2020 e 2023, que envolveram diferentes condições de dor, vários produtos CBD e dosagens entre os 6 e 1600 miligramas, administrados oralmente, debaixo da língua ou topicamente a 917 pacientes, ao longo de 12 semanas. Dos 16 estudos, em 15 os produtos CBD não aliviaram mais a dor do que os placebo e apenas numa pequena amostra de 19, os pacientes com artrite revelaram um alívio significativo com o uso destes produtos.
A equipa revela ainda que os produtos vendidos diretamente ao público podem ter quantidades diferentes de CBD do que aquelas que são anunciadas, que há produtos com tetrahidrocanabiniol (THC) mesmo em produtos que dizem não o ter, com um estudo de 2022 a revelar que apenas um quarto dos 105 produtos testados a estar efetivamente bem etiquetado, com alguns a conter mais CBD do que o anunciado.
Os cientistas afirmam que é compreensível que os pacientes se virem para este tipo de produtos para aliviar as dores, lembrando que, no Reino Unido, um em cada cinco adultos sofre desta condição. “Para demasiadas pessoas com dor crónica, não há medicação. A dor crónica pode ser horrível e as pessoas estão muito motivadas a encontrar alívio por qualquer meio. Isto torna-as vulneráveis para as promessas arrojadas feitas sobre o CBD”, explica Andrew Moore, da Universidade de Oxford.
A economia em torno deste tipo de produtos explodiu nos últimos tempos, com analistas a preverem que chegue aos 60 mil milhões de dólares em 2030.