A história da Microsoft fez-se de múltiplos sucessos – como o sistema operativo Windows, as ferramentas de produtividade Office, o navegador Internet Explorer ou o serviço de e-mail Outlook –, mas nem tudo correu como planeado à tecnológica e em particular ao seu icónico cofundador, Bill Gates. O norte-americano participou recentemente no podcast Masters of Scale e falou daquele que considera ter sido o maior erro da Microsoft… e o maior erro pessoal.
Bill Gates começou por explicar como a Microsoft arrancou tarde para o aparecimento da World Wide Web e isso permitiu o aparecimento de uma nova grande empresa de software – a Netscape, responsável por um navegador de internet com o mesmo nome –, que poderia ameaçar o domínio que a tecnológica de Redmond tinha alcançado com o MS-DOS e o Windows. Na época, Bill Gates ordenou que toda a atenção da empresa se focasse no desenvolvimento de uma ferramenta que pudesse competir com o Netscape, o que acabaria por dar origem ao Internet Explorer.
A aposta surtiu efeito e a empresa teve mesmo uma posição de liderança no segmento dos browsers no início do século XXI, mas o que começara de forma tardia também acabaria por ser ‘sol de pouca dura’ depois do aparecimento do rival Google Chrome – o navegador da Google tornou-se e é o atual browser líder de mercado, enquanto o Internet Explorer foi recentemente descontinuado.
“[Foi] O facto de a Google ter ficado tão à frente no [segmento] da pesquisa, eles de certa forma nasceram da pesquisa, mas nós não fizemos as coisas certas para acompanhar. Como o facto de não termos acertado nos smartphones e nos tablets”, justificou Bill Gates sobre o porquê de a empresa ter perdido o momento de viragem do mercado dos computadores para o mundo dos dispositivos móveis. E é aqui que estão, para Bill Gates, o grande erro enquanto gestor e o grande erro pessoal.
“Economicamente, o telemóvel foi a coisa mais flagrante em toda a história da empresa. Mas na verdade a do tablet é aquela que me aborrece mais, por muitas razões em termos de erros que não deveria ter cometido”. No passado, Bill Gates já tinha dito que a guerra contra o Android tinha sido o seu maior erro.
Apesar de o ter dito agora de forma mais clara, Bill Gates foi deixando ‘pistas’ ao longo dos anos sobre a amargura de não ter conseguido transformar o tablet num produto de consumo. Em 1998, à época diretor executivo da Microsoft, Gates tinha rejeitado a ideia de criar um tablet. Dois anos depois voltou atrás na decisão e a Microsoft criou e apresentou mesmo um equipamento desta categoria. Em 2001, Bill Gates chamou o jornalista Steven Levy à sede da Microsoft em Redmond, nos EUA, para lhe mostrar um novo produto e dizer que “todos os portáteis estão destinados a tornarem-se tablets” – no ano seguinte, a tecnológica apresentou um tablet com ecrã a cores e que executava o sistema operativo Windows Vista.
Mas o formato acabaria por cair no esquecimento, até que a Apple, liderada por Steve Jobs, anunciou o iPad em 2010, transformando o tablet numa categoria de eletrónica de consumo com grande procura.
Se pudesse voltar atrás, Bill Gates diz que a única coisa que mudaria era não passar três anos da sua vida “distraído” – palavra do próprio – com o processo do Departamento de Justiça dos EUA (um dos maiores processos anticoncorrência de sempre movido contra uma empresa americana). “Esse foi um período crucial e eu não estava presente o suficiente, e permiti que definíssemos um objetivo muito baixo no horizonte – não é um erro comum, mas definitivamente um que cometi”.