Frances Haugen, uma antiga funcionária do Facebook, partilhou com o Wall Street Journal documentos internos que revelam que a empresa de Mark Zuckerberg, tinha conhecimento dos impactos negativos que as plataformas, tais como o Instagram, causam nos utilizadores. Em entrevista ao 60 Minutes, a ex-gerente de produtos algorítmicos afirmou que a gigante tecnológica falhou em proteger os seus utilizadores, e não fez nada para minimizar os danos, colocando o lucro como prioridade.
“O Facebook escolheu, repetidamente, otimizar [os serviços] conforme os seus próprios interesses, tais como ganhar mais dinheiro”, afirmou Haugen a Scott Pelley, em entrevista. “Eu já sabia como é que iria ser o meu futuro se continuasse na empresa”, acrescentou.
Haugen, trabalhou no Facebook cerca de dois anos. A ex-funcionária justificou a sua ação de partilhar os documentos após perceber que existia um conflito de interesses sobre o que era melhor para a empresa e o que era melhor para os utilizadores. A denúncia rapidamente gerou polémica em torno desta questão e os legisladores acusam a empresa de ocultar informações pertinentes nos seus relatórios internos.
Haugen acusa a empresa de exagerar nos progressos feitos, de modo a encobrir a violência e desinformação que ocorrem na plataforma. “A sua própria pesquisa revela que os conteúdos que são odiosos, que causam divisão, que são polarizadores, mais facilmente inspiram as pessoas à raiva em detrimento de outras emoções.” A ex-trabalhadora acusa ainda o Facebook de desinformação nas redes sociais para seu próprio benefício, referindo que a empresa tinha conhecimento sobre os riscos associados às eleições de 2020, oferecendo uma resposta temporária com o projeto Civic Integrity. “Não acredito que eles estejam realmente dispostos a investir o que é preciso ser investido para evitar que o Facebook seja perigoso”. Contudo, o Facebook dissolveu, demasiado cedo, a unidade responsável por combater a desinformação associada aos processos democráticos e, segundo a denunciante, assim que as eleições acabaram, a empresa voltou a priorizar o crescimento e o lucro em detrimento da segurança dos utilizadores. “E para mim isso parece uma traição à democracia”, referiu Haugen.
Frances revela ainda que, com base em ações do passado, o algoritmo pode apresentar “milhares de opções” sobre os conteúdos apresentados no feed de cada utilizador, referindo que o Facebook escolhe o conteúdo que obtém maior engagement ou reação.
A empresa de Zuckerberg não respondeu logo às acusações. Contudo, segundo o Financial Times, Lena Pietsch, diretora de comunicação política do Facebook, disse que a empresa estava disposta “a responder a quaisquer perguntas que os legisladores possam ter”.
Graças aos documentos trazidos a público tem-se agora conhecimento que a empresa “encobriu”, por exemplo, os efeitos negativos que o Instagram tem na saúde mental da população mais jovem e ainda a diferenciação no tratamento entre os perfis mais populares e os restantes. Prevê-se que Francis Haugen irá, na próxima terça-feira, 05 de outubro, testemunhar no Senado dos Estados Unidos a propósito da proteção dos mais jovens no mundo digital. Além disso, tem presença prevista para o Web Summit.