Com o intuito de acabar com a incompatibilidade entre os sistemas de carregamento dos diferentes dispositivos e reduzir a elevada produção de carregadores, a Comissão Europeia apresentou nesta quinta-feira, 23 de setembro, uma proposta que criar uma solução de carregamento comum para algumas das principais categorias de dispositivos eletrónicos. Deste modo, A Comissão Europeia refere que “as medidas propostas aplicam-se a smartphones, tablets, câmaras, auscultadores, colunas de som, portáteis e consolas de videojogos portáteis”.
Com esta proposta, a Comissão Europeia pretende contribuir para a “redução do lixo eletrónico” e, ao dispor de apenas um único modelo de carregador, acabar com os inconvenientes para os consumidores, causados pela prevalência de diversos carregadores incompatíveis entre dispositivos eletrónicos. “Embora a inovação em tecnologias da informação e comunicação seja geralmente bem-vinda, isto levou à sobrecarga do consumidor e à frustração com soluções incompatíveis e impacto negativo no meio ambiente”, afirma a Comissão Europeia.
Assim, para criar uma maior harmonização entre dispositivos móveis, “o USB-C tornar-se-á a porta padrão para todos os smartphones, tablets, câmaras, fones auditivos, altifalantes portáteis e consolas de videojogos portáteis”, refere a Comissão Europeia.
A Comissão Europeia quer também que haja uma “harmonização” na tecnologia de carregamento rápido, com o objetivo de que a velocidade de carregamento seja a mesma quando usado um carregador compatível com o dispositivo em questão.
De acordo com o comunicado divulgado por Bruxelas, cerca de 420 milhões de telemóveis ou outros tipos de dispositivos eletrónicos portáteis foram vendidos no ano de 2020 em espaço europeu e calcula-se que, “em média, um consumidor tem cerca de três carregadores de telemóveis”. A inconveniência da incompatibilidade leva a que os consumidores gastem, aproximadamente 2,4 mil milhões de euros anualmente só em carregadores. Para além disso, “estima-se que os carregadores descartados e não usados representem cerca de 11 mil toneladas de lixo eletrónico anualmente”. Assim, com a implementação desta solução comum prevê-se que esse número reduza em quase mil toneladas por ano.
“Os consumidores europeus ficam frustrados demasiado tempo, com carregadores incompatíveis amontoados nas gavetas”, afirmou a vice-presidente executiva da Comissão Europeia, Margrethe Vestager, considerando que “a indústria teve bastante tempo para apresentar as próprias soluções”, para harmonizar uma solução de carregamento comum , mas “agora é hora de uma ação legislativa”.
A Comissão Europeia pretende ainda separar a venda de carregadores e de dispositivos eletrónicos de modo a “melhorar a comodidade dos consumidores e reduzir a pegada ambiental associada à produção e eliminação dos carregadores, apoiando assim as transições verdes e digitais”.
Este é, de acordo com o comissário responsável pelo Mercado Interno, Thierry Breton, um “passo importante para aumentar a conveniência e reduzir o desperdício”. Esta proposta de implementação de um carregador universal já foi defendida pelo Parlamento Europeu diversas vezes, mas tem merecido a oposição de empresas tecnológicas, como é o caso da gigante americana Apple, que pode vir a ser bastante afetada uma vez que são proprietárias do seu próprio equipamento – cabo com ligação Lightning.
A criação de carregador universal está a ser falada desde 2009, e em 2011 as fabricantes tecnológicas Apple, Samsung, Huawei e Nokia assinaram um acordo voluntário, comprometendo-se a harmonizar, a partir desse ano, os carregadores para os novos modelos de smartphones. Isto resultou numa significativa redução do número de carregadores diferentes e na convergência, naquela época, para a utilização do standard microUSB no mercado europeu. Porém, este acordo terminou cerca de três anos mais tarde.
A proposta apresentada hoje pela Comissão Europeia terá de ser adotada pelo Parlamento e pelo Conselho Europeu. Bruxelas espera que “um período de transição de 24 meses a partir da data de adoção dará à indústria tempo suficiente para se adaptar antes da entrada em vigor”.