Dentro de algumas semanas, já no ano novo, a empresa de seguros Liberty vai atingir um marco importante – estará exatamente a meio do caminho daquela que é uma grande aposta tecnológica e que a empresa começou a fazer há dois anos. Este investimento, uma espécie de plano-mestre, está orçado em 100 milhões de euros e tem como grande objetivo garantir uma capacidade de criação de novos serviços que até aqui simplesmente não era possível para um grupo que tem presença direta em mais de 25 países e emprega mais de 45 mil pessoas.
Na prática, a empresa está a criar uma base tecnológica comum a todas as atividades comerciais, que engloba todos os mercados, e que assenta numa tipologia de computação na nuvem que é conhecida como cloud pública – uma na qual a infraestrutura e os serviços de computação são garantidos por uma empresa externa através do acesso à internet pública. Neste caso, o fornecedor é a Amazon Web Services. E o que é que isto garante? Segundo Alexandre Ramos, uma das mentes por trás deste plano, flexibilidade.
“Se eu quero fazer um produto no atual ecossistema, num dos países, demoro entre dez e doze meses. Agora [na cloud pública] num par de dias consigo dar vida [ao produto] e num par de semanas está em produção e a ser consumido”, conta em entrevista à Exame Informática.
Ao passar a gestão da infraestrutura cloud para outros, a Liberty baixa os custos operacionais e deixa de estar tão limitada naquilo que pode criar dentro de portas. “Hoje, neste novo ecossistema, consigo aspirar a ligar-me a um serviço disponibilizado por um terceiro que vai permitir ao cliente ativar e desativar um seguro que lhe convém – se utilizo pago, se não utilizo, não pago –, como também posso ter inovações próprias”, acrescenta o responsável.
Aos 47 anos, Alexandre Ramos é o diretor de tecnologias de informação da Liberty para a Europa, que engloba as operações em Portugal, Espanha e Irlanda. Coordena uma equipa de 50 especialistas em novas tecnologias entre os três países que trabalham diretamente para a seguradora, mas o número de trabalhadores que tem sob sua alçada chega aos 100, se forem contados também todos os que não trabalham a tempo inteiro na área técnica. E depois ainda é necessário fazer a ponte com outras regiões do globo nas quais a Liberty tem presença, para garantir a unificação de todo o ecossistema cloud.
“Orquestrar, orientar, ter gestores de produto que estão num país com uma língua materna diferente e unir tudo isto em prol de um único resultado e atingir os resultados que temos atingido, é verdadeiramente fantástico”, congratula-se.
Evolução em ritmos diferentes
A Irlanda é o mercado europeu no qual esta transição para um ecossistema de cloud pública já está mais avançada: 100% do chamado novo negócio (novas apólices, novos clientes ou simplesmente novos sinistros) já é canalizado para plataformas de cloud pública. Em Espanha, a empresa iniciou há duas semanas esta mesma implementação, mas apenas para o setor automóvel. Na lista segue-se Portugal, que em 2021 também já deverá ter serviços de seguro a serem executados neste novo ambiente cloud.
O objetivo da Liberty é ambicioso – enquanto seguradora, disponibiliza mais de 3000 produtos. Daí que ainda só esteja a meio caminho de colocar estes produtos a ‘viverem’ num ecossistema mais aberto – e aberto é uma palavra que Alexandre Ramos gosta de vincar. “Tudo o que fazemos pode ser disponibilizado por uma API [interface de programação de aplicações], temos uma estrutura de integração completamente aberta, não fazemos nada que não seja por uma API”, revela.
A partir desta ideia de que todos os serviços funcionam como peças independentes num grande puzzle, é possível explorar novas áreas que, em teoria, vão beneficiar o utilizador final. “Vai-me permitir dar aos clientes o que os clientes naquela altura valorizam”, adianta o responsável. Para Alexandre Ramos, qualquer tipologia de seguro que faça sentido ser ativado e desativado em função das necessidades específicas do cliente será explorada neste sentido mais modular.
O que isto significa na prática é que será, através das tais API, possível ativar e desativar seguros mesmo em websites ou aplicações de outras empresas que não os da própria Liberty. “A nossa visão é dar [ao cliente] a capacidade de escolher o tipo de garantias que quer, independentemente se é automóvel multirrisco, acidentes pessoais ou acidentes de trabalho”, defende, e tudo de forma mais simplificada e transparente.
E a partir do momento em que o cliente tem maior controlo sobre os seguros e sobre o que cobre em rigor cada uma dos serviços subscritos, terá um maior controlo sobre os gastos com este tipo de despesa. Um cenário que para Alexandre Ramos, trará vantagens para ambas as partes. “Imagine podermos deixar de pensar nas limitações que temos ou no custo operacional que é preciso para poder vender um seguro, para pensar na jornada do cliente: simples, acessível e transparente”.