Quase todos os portugueses aguçam a expectativa quanto à quinta geração de redes móveis (5G) que deverá estrear no final do ano, mas Alcino Lavrador não perde de vista os preparativos para sexta geração de redes móveis (6G), que só deverão estrear em 2030. O diretor-geral dos Altice Labs antevê um futuro em que as comunicações móveis serão feitas na ordem dos TeraHertz e dos TeraBits através de retransmissores e telemóveis muito diferentes dos da atualidade.
Ainda nem sequer temos a 5G disponível… e já se fala de 6G. Mas afinal o que é podemos vir a ter com a 6G?
Do ponto de vista tecnológico, a 5G está perfeitamente estabilizada. Ainda não está no terreno, e ainda há muitas etapas por cumprir, mas sabemos o que é que é necessário e o que é que vamos alcançar com a 5G. Com a 6G, é necessário começar a trabalhar nas especificações e nos objetivos que queremos alcançar para que se cumpra aquele período de ter uma nova geração tecnológica de 10 em 10 anos. Obviamente, que ainda são muito vagos os objetivos a alcançar (pela 6G), mas há uma coisa que é certa: teremos velocidades muito mais rápidas na ordem do TeraBit… andaremos entre os 500 GigaBits por segundo e um TeraBit por segundo. E depois disso, temos de pensar nas coisas ao contrário: para termos estas velocidades e zero de latência, o que é que é necessário fazer…
A começar pelas frequências que terão de ser usadas…
…as frequências que é preciso usar, quais são os métodos de aglutinação de blocos de frequências que vão ser aplicados… Temos na 5G uma proximidade forte entre a antena (do retransmissor) e o terminal. Com a 6G, precisamos de antenas maiores para radiar a potência necessária para estas novas velocidades.
E daí ter mencionado neste evento que as redes do futuro poderão vir a usar grandes superfícies como antenas!
Sim. Uma das possibilidades que têm vindo a ser estudadas é o uso de superfícies lisas, largas e refletivas, como as estradas e fachadas de edifícios que passam a funcionar como antenas.
O que implica uma mistura de materiais e novos processos de produção… É possível integrar circuitos em cimento ou alcatrão?
É possível, desde que a superfície seja refletiva. Obviamente, há que ter em conta as imperfeições – mas também é possível anular essas imperfeições por computação. Outra característica é que, até agora, baseámos todas as várias comunicações móveis na componente terrestre, mas vamos precisar de complementar essa transmissão com redes não terrestres, com recurso a satélites, ou transmissões óticas sem fios, que podem ser feitas com laser.
Para chegar aos TeraBits por segundo, não será necessário usar frequências mais altas?
Sim, muito mais altas…
Na ordem dos TeraHertz?
Sim, também. Quanto mais alta é a frequência, mais próximos teremos de estar dos equipamentos emissores. E daí termos falado das tais antenas maiores, com as superfícies largas e reflexivas.
Tudo pode ser uma antena?
Sim, tudo pode ser uma antena… todo este soalho (aponta para o chão) pode ser uma antena, desde que faça reflexão (das comunicações hertzianas).
Essas superfícies refletivas devem implicar um grande consumo de energia!
Não. Obviamente haverá antenas ativas, mas (as superfícies largas) serão antenas passivas, que refletem o sinal para que possa chegar a outro polo. São um conjunto de refletores dispersos, que poderão levar os sinais (de radiofrequências) aos consumidores.
Não há risco de interferência?
É um desafio… mas isso tem sido sempre assim em todas as gerações. A superfície da água é refletora, mas, cá está, há a intenção de usar a superfície de um rio ou de um lago como uma das tais antenas reflexivas e lisas. Ainda há um grande trabalho pela frente. Estamos em 2020 e isto é algo para 2030. Estamos a dar início aos estudos, mas tenho a certeza de que há uma forte componente de computação que será capaz de identificar e eliminar as interferências.
Não serão só as antenas dos retransmissores… provavelmente, também os terminais e os telemóveis terão de mudar.
Sim, com a desagregação do smartphone… vamos continuar a comprar smartphones, mas os smartphones vão ser diferentes. Provavelmente vamos começar a comprar smartphones às peças. Compramos os auriculares, as pulseiras, as câmaras, os visores… as superfícies onde a informação pode ficar disponível podem ser tão variadas, que até poderão não pertencer ao smartphone. Poderemos até nem precisar de visor no smartphone. São projeções e hipóteses que se colocam em cima da mesa… tal como se coloca em cima da mesa a possibilidade termos interações multissensoriais… a começar por pequenas interações entre cérebro e processador e implantes no corpo, para podermos mais facilmente interagir com os equipamentos, Hoje, temos os wearables, mas podemos passar a ter algo mais incorporado…
A Altice Labs já está a trabalhar para a 6G?
Neste momento há cinco projetos que ainda estão no (programa) Horizonte 2020, que estão dentro da ótica do “Beyond 5G” ou para além da 5G. Um desses projetos é o Terranova, para o qual estamos a desenvolver um dispositivo para transmitir velocidades próximas dos Terabits. Estamos já com 200 Gigabits (por segundo), nos próximos saltos vamos para os 500 (Gigabits por segundo), eventualmente. Mas é um equipamento que já existe. É um protótipo único e que não pudemos mostrar aqui porque está na Alemanha. Já estamos a trabalhar nessa vertente – mas há outras vertentes, como a arquitetura de rede ou a comunicação próxima entre equipamentos.